Página  >  Edições  >  N.º 81  >  Os Últimos Dias do FITEI

Os Últimos Dias do FITEI

Quando este jornal chegar às mãos dos leitores, muito provavelmente estará a meio curso a 22ª edição do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI), que anualmente decorre em vários palcos da cidade do Porto.
Se for o caso, os leitores de «A Página» ainda poderão assistir a alguns dos melhores espectáculos que o programa do FITEI contempla, nomeadamente, os que são apresentados pela companhia Ladoalados (Rio de Janeiro), Teatro Corsário (Valladolid), Teatro Nacional de S. João (Porto), Centro Andaluz de Teatro (Sevilha) e L'Avalot Teatre (Barcelona).
Do Brasil, "A Boa" (Aimar Labaki) é uma história que, de acordo com os seus intérpretes - Ana Kutner e Milhem Cortaz ("Torre de Babel") -, "coloca em questionamento a relação humana, fazendo-nos pensar se a ajuda, a generosidade, não atrapalham o caminho de busca do ser humano". Em palco estão um homem e uma mulher que estabelecem um relacionamento no pressuposto de que já se teriam conhecido quando adolescentes. Hoje, ele é um sem-abrigo e ela uma mulher da classe média. O que os une, que fronteiras se impõem reciprocamente, quem são, o que fazem e para onde vão - é disto que se trata [dias 6 e 7, 22 horas, Auditório Nacional Carlos Alberto].
A Morte a julgar mortos de diferentes estratos sociais pelas suas existências terrenas, é a proposta do Teatro Corsário. O pretexto de "Coplas por la Muerte" (Fernando Urdiales) é uma trupe de defuntos cómicos que, com a própria morte por companhia, percorrem o mundo encenando uma dança macabra de expiação. "A Morte é o polichinelo de bordoada e porte teso que destroça altivezes e arrogâncias" [dias 7 e 8, 21h30, Rivoli].
A produção do Teatro Nacional de S. João - que, terminado o FITEI, permanecerá em cena até ao dia 26 - é, nas palavras do seu encenador, Fernando Mora Ramos, uma proposta "sobre o amor, a sua ausência, a troca". Contrariamente ao que o título pode sugerir, "Combate de Negro e de Cães" (Bernard-Marie Koltés) não fala de África nem dos negros, embora se inspire numa experiência africana do autor: "em plena selva, uma aldeia com cinco, seis casas, cercada com arame farpado e com torres de vigilância; lá dentro uma dúzia de brancos que vivem mais ou menos aterrorizados pelo que possa advir do exterior, protegidos por guardas negros armados (...) Durante a noite, os guardas para se manterem acordados produziam determinados sons com as gargantas". Terão sido esses gritos que inspiraram Koltés a escrever sobre as inquietudes e a solidão de três pessoas isoladas num local que lhes é estranho, mas onde acontecem "os habituais dramas pequeno-burgueses em tudo idênticos aos que se vivem em qualquer bairro" [dias 8 e 9, 21h30, Teatro S. João].
De Lope de Vega, "Fuenteovejuna". Anunciada como "uma festa onde as mulheres actuam, cantam e dançam", a produção sevilhana encena a lenda do levantamento de um povo contra o opressor, de uma comunidade contra a impunidade. "Uma lição de coragem face ao abuso, a tortura e a humilhação", num tempo em que as mulheres permanecem protagonistas esquecidas pela História; num tempo em que a violência sexual é, cada vez mais, um recurso estratégico de guerra. Uma festa "onde se fundem as culturas andaluza e palestiniana" [dias 8 e 9, 21h30, Teatro do Campo Alegre].
A encerrar o XXII FITEI [dia 9, à meia-noite, na Praça da Liberdade], a proposta está na linha do que tem acontecido nas edições anteriores: animação, pantomina e pirotecnia em espaço aberto. Desta vez com os catalães L'Avalot Teatre. Trabalho colectivo, "Foc!" revela uma "comandita de personagens diabólicos acompanhados de um dragão que vai incendiando tudo por onde passa, até chegar ao clímax final, com um grande incêndio".

António Baldaia


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 81
Ano 8, Junho 1999

Autoria:

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo