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As Crianças Aparecem

Pois aparecem!
Se a família lhes passar a ideia de que é preciso e, sobretudo, de que são gente e que um gesto seu ajuda a construir o futuro.
Se outras crianças se juntarem a elas.
Se a sociedade não lhes negar os seus direitos.
Se o poder político as valorizar.
E, natural e determinantemente, se a escola for placa de cultura de valores.
É tão fácil encher balões com gás mais leve do que o ar e acompanhar o seu desejo de subida com a expressão plástica das coisas importantes.
Sem sombra de dúvida, foram os seus trabalhos (em festa) que animaram a tribuna das comemorações do 1º de Maio na baixa do Porto. E foram certamente as mãos com restos das cores e as manchas na roupa que arreliam os pais, que prolongaram os momentos de liberdade de pintar! Fora com ralações de nódoas, até há milagres anunciados que removem qualquer tipo das ditas. Pena é que as publicidades enganosas queiram limpar também dos espíritos códigos de conduta para a aquisição do direito de cidadania!
Mas, as mesmas crianças, mesmo que não tenham ainda aprendido a ler, foram ensinadas a ver cogumelos de fogo, toques mágicos em ecrans que sugerem jogos consentidos de brincadeiras proibidas. A guerra, a fome, as valas tão diferentemente concebidas em relação àquelas que escavam nas areias da praia e que o beijo de uma onda do mar atenua, desfaz e ... deixa tudo como dantes. Macio, acolhedor, com cheiro a sal!
Dou comigo a pensar que os direitos da criança são deveres dos adultos.
Para quando a tomada de consciência dos adultos governantes da responsabilidade imensurável que têm relativamente à formação dos mais pequenos (tão grandes em estatura política!)?
Quando terão, as dimensões temporais e espaciais que as intenções parecem definir, consistência no terreno?
O que é autonomia? Um conceito regulamentado por medidas que o desmentem?
O que é uma escola inclusiva, quando nem as chamadas exclusões naturais (?) são atenuadas?
Os professores são, imperativamente, o motor da máquina educativa, mas é preciso não esquecer que um motor necessita de veículo seguro com paragem em todas as estações e com assento para todos os passageiros, de estrada para andar sem trilhos e com sinalética de leitura clara , de combustível o menos poluente possível e de pronto-socorro apetrechado para resolver pannes de forma criativa. Os tempos mudaram; os instrumentos têm que ser mais diversificados e versáteis.
A vontade dos professores e educadores é uma realidade.
As crianças aparecem.
Falta o resto.

Iracema Santos Clara
Escola EB2,3 Dr. Augusto Pires de Lima - Porto


  
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Edição:

N.º 81
Ano 8, Junho 1999

Autoria:

Iracema Santos Clara
Escola E.B. 2/3 Dr. Pires de Lima, Porto
Iracema Santos Clara
Escola E.B. 2/3 Dr. Pires de Lima, Porto

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