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André filho de veterinário

Até podem ser mordidos
por papagaios inofensivos...

O André gosta muito de animais. Em particular de cães e de gatos, e especialmente destes últimos. "São independentes e sabem tratar deles próprios. Só precisam que lhes mudem a areia e dêem de comer. Os cães, ao contrário, parece que não têm personalidade". Mas ainda há três anos, admite, chegou a querer um cãozinho. Depois foi um hamster. Entretanto, já teve dois cágados que, desafortunadamente, morreram em poucos meses. E peixes - "acho que matei um deles por lhe dar muita comida...". Não são estas desventuras que o farão desistir de ser veterinário, tal como o pai. Apesar de não se lembrar muito bem em que altura tomou a decisão, quase jurava que praticamente desde que começou a falar. Claro que já pensou em tornar-se professor de história ou jornalista, mas a vontade de tratar animais sobrepôs-se.
A curiosidade em conhecer a profissão do pai já o levou a folhear os livros de curso. Não os achou muito interessantes. "Encontra-se demasiadas palavras complicadas", diz, apesar de saber que irá ter de lidar com elas num futuro próximo. Estudar para médico veterinário é quase como aprender a ser médico. É preciso estudar ciências, matemática, biologia, entre outras cadeiras. E o pior é que as médias de ingresso na faculdade são muito altas: acima de dezoito. "No tempo do meu pai devia ser menos difícil porque as médias eram mais baixas. Ainda por cima, hoje há muitos candidatos".
O André explica que o pai se decidiu por esta profissão em parte por causa da escolha de um amigo. "Ele contou-me que foi para veterinário porque um amigo dele também foi e porque gostava muito de animais. Acho que foi isto mais ou menos...". E não foi mal escolhida, a atestar pelaomo em todas as outras, ganha-se dinheiro. Muito? "Normal", diz.
O dia-a-dia do pai inicia-se habitualmente por volta das oito e meia da manhã e é preenchido entre o atendimento na clínica veterinária e a Câmara Municipal do Porto, onde exerce funções no pelouro do Ambiente. Ao fim da tarde regressa à clínica. Mais o mais aborrecido, conta o André, é quando ele tem de levantar-se a meio da noite por causa de uma emergência. "Às vezes telefonam por causa de um cão que foi atropelado, de alguma doença meia esquisita, de uma perna partida... Não deve ser tão mau como os médicos, mas mesmo assim é aborrecido". E, lembra ainda o André, "muitas vezes tem de ficar em serviço de urgência até depois da meia-noite". É a parte que menos lhe agrada, confessa com ar de desagrado.
Victor Aires já exerceu o cargo de director do canil municipal. Do rol de tarefas que lhe estavam atribuídas, uma delas, certamente, revelava-se particularmente difícil: abater animais sem licença. Era uma das responsabilidades que o André não gostava de ter em mãos. "Devia haver outras maneiras de os matar, mas não sei se existem. Talvez uma maneira rápida e em que eles não pensassem que estavam a morrer". Afinal - e apesar da necessidade de controlar a população de animais vadios - "eles também têm sentimentos". Além disso acredita que "deve ser cansativo".
E o pai? nunca tem medo dos animais que trata? "Acho que não". assegura o André. "O que ele não gosta é de tratar certas raças de cães e gatos, como o doberman, o rotweiller ou o siamês. Ensinou-me que nunca se deve dar-lhes muita confiança porque podem ser agressivos". Depois, "não gosta lá muito de cães pequeninos, porque estão sempre a ladrar e são muito chatos". Além disso, alguns "são cheios de mariquices". Mas não têm culpa. Os donos é que gostam de fazer-lhes "cortes esquisitos". Uma vez foram perguntar-lhe se sabia tratar de cágados", diz a rir. "Ficou com uma cara...".
Mas os veterinários não cuidam apenas de animais domésticos. Também têm de tratar dos animais do campo, vacinando cavalos e ovelhas ou ajudar uma vaca a ter uma cria, por exemplo. "O meu pai explicou-me que é preciso meter a mão no rabo da vaca e puxar o lixo. Deve ser um bocado nojento... mas até gostava de experimentar", diz o André. E se pudesse até tinha um burrico, que é o seu animal preferido.
E mesmo os técnicos mais experimentados passam por situações caricatas. "Uma vez estávamos numa loja que tinha um papagaio numa gaiola. Eu e o o meu irmão estávamos a brincar com ele, e o meu pai disse-nos para termos cuidado. Quando veio ao pé de nós, fez o mesmo e o papagaio mordeu-o. Ficou todo zangado".

Ricardo Jorge Costa


  
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Edição:

N.º 74
Ano 7, Novembro 1998

Autoria:

Ricardo Jorge Costa
Jornalista do Jornal A Página da Educação
Ricardo Jorge Costa
Jornalista do Jornal A Página da Educação

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