Portugal foi um dos centros do Mundo. José Saramago foi escolhido para Prémio Nobel da Literatura e, no Porto, teve lugar mais uma Cimeira Ibero--Americana, onde Fidel Castro esteve igual a ele próprio, dominando as atenções gerais, apesar da notícia-bomba, surgida em plena conferência, a dar conta da detenção, em Londres, do chileno Pinochet, acusado de vários crimes pela justiça espanhola. Em Matosinhos, Fidel Castro compareceu num comício de solidariedade com o povo cubano onde discursou durante mais de duas horas (da meia noite e pouco até quase às duas e meia da madrugada) proferindo aquele que terá sido o maior discurso político de sempre em Portugal e, para muitos dos presentes, uma aula de ciência política. Assistiram, entre outros, Vasco Gonçalves, José Saramago, Carlos Carvalhas e Narciso Miranda, estes três últimos de pé, no palco., durante todo o tempo. O Nobel para Saramago e a Cimeira do Porto, com o "charme" da presença de Fidel Castro, relegaram para segundo plano outros acontecimentos, quer no plano nacional, quer no plano internacional, como um manto que se estendeu sobre outras realidades a ter em conta, nomeadamente sobre outras alegrias ou sobre outras tristezas. A morte física (na sequência de um coma profundo de quatro meses) do escritor José Cardoso Pires, um dos vários a quem o Prémio Nobel da Literatura podia ter sido atribuído, envolveu a alegria colectiva pelo prémio alcançado por José Saramago numa onda de tristeza, apesar da memória do sorriso de Cardoso Pires que nos fica. Além dos livros.
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