Brasília, 15 de Junho de 1998.
Prezados Senhores,
O Governo brasileiro vem servindo à Universidade Pública Federal o prato amargo do desmantelamento, provocando acentuada deterioração das condições de trabalho de seus quadros docente e técnico-administrativo.
Recusando-se a negociar com o Movimento Docente sobre pauta apresentada em Dezembro de 1996 - e sobre outras propostas posteriormente apresentadas -, o Ministério da Educação explicita seu desprezo às mesmas instituições pelas quais lhe caberia zelar, o que levou à deflagração da greve nas Universidades.
Ao fazer um jogo diversionista com a média, divulgando dados pouco ou nada significativos sobre os quadros docentes das Universidades como se fossem o retrato do todo e favorecendo a formulação de análises que se distanciam das reais e sombrias perspectivas que povoam o cotidiano desses docentes, o Ministério da Educação mostra a sua face desrespeitosa para com aqueles que, em todo o território nacional, têm criado e fomentado o espaço da pesquisa, da crítica, além do trabalho de formação, com qualidade, de milhares de brasileiros.
Numa tentativa de esfacelar a resistência dos professores das Instituições Federais de Ensino Superior ao avanço do projecto do Governo para a educação pública no país, contida num Programa de Bolsas para sobrevalorizar o ensino em detrimento da pesquisa científica e dos trabalhos de extensão, o Senhor Ministro da Educação suspendeu - sem registrar essa decisão em qualquer documento - os salários que deveriam ter sido pagos na última semana do mês de Maio. Entretanto, essa postura só fez recrudescer o Movimento Docente, gerando tamanha indignação que um instrumento que já estava colocado no horizonte de nossa luta, a GREVE DE FOME, foi accionado para pressionar o governo no sentido de repassar as verbas para que tal pagamento fosse efectuado.
O Senhor Presidente da República, ante a possibilidade de excessiva exposição de sua postura autoritária e injustificável perante a opinião pública e os segmentos organizados da sociedade, determinou ao Senhor Ministro o imediato pagamento dos salários a todos os professores.
Desprezando ainda mais a nossa capacidade de indignação, o Senhor Ministro utiliza-se de cadeia nacional de televisão e divulga ao povo brasileiro uma mensagem relativa ao pagamento dos salários de Maio - em 12 de Junho, com 17 dias de atraso -, reduzindo nossas reivindicações meramente ao pagamento daquele salário e à apresentação ao Congresso Nacional de seu Projecto de Lei e afirma que deveríamos nos dar por satisfeitos e voltar imediatamente ao trabalho. Não obstante, o Projecto de Lei institui, com pequenas alterações, o mesmo ëPlano de Bolsasí que levou os professores à greve, continua excluindo professores de 1º e 2º graus e discriminando os aposentados.
Ocorre que tal anúncio se dá exactamente quando já começam a chegar a Brasília, de diversas partes do país, professores voluntários para a Greve de Fome marcada para se iniciar em 15 de Junho. Diante da perplexidade do movimento, expressada a partir das bases de nossa categoria, a maior parte desses colegas se mostrou disposta a dar continuidade ao projecto da GREVE DE FOME, no sentido de exigir do Governo o devido respeito aos professores das Universidades Federais Brasileiras. O limite para essa Greve de Fome é a retirada, do Congresso Nacional, do Projecto de Lei formulado nos moldes da política governamental de desmonte das Universidades Federais e a imediata apresentação de um Projecto de Lei que seja fruto de negociação entre o Governo e o Movimento Docente.
Os Professores em Greve de Fome, numa atitude extremada, oferecem seus corpos à luta, e remetendo-nos a Franz Kafka, a respeito da ARTE DA FOME, afirmam que, ëtal como o protagonista kafkiano, nós também a fazemos por falta de gosto para as comidas existentes, dieta com gosto de opressão, sem possibilidade de escolha - preparada no tacho de um projecto hegemónico, que não admite alteridadeí.
Diante do exposto, os professores das Instituições Federais de Ensino Superior - que defendem com clareza um projecto de Universidade construído durante anos através da análise e discussão de toda a categoria - vêm pedir aos Senhores o apoio à nossa luta, na forma de actos de solidariedade aos colegas PROFESSORES EM GREVE DE FOME.
Saudações.
Comando Nacional de Greve / Andes - SN
PS
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