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Com a Palavra a Matemática

Há algum tempo notamos a discussão sobre um assunto muito peculiar a todos: a Educação. Observamos também que muitas teorias e abordagens sobre ela nos são apresentadas; porém, resta-nos uma dúvida sobre como deve ser a educação de nossas crianças. Entre as várias discussões, uma que procura se definir e esclarecer sua função, é a que se refere ao ensino da Matemática, mediante a tantas transformações e modernidades de nossos dias. Será que há realmente a necessidade de aprender Matemática, a qual nos parece totalmente ultrapassada e sem sentido? A Matemática é ainda uma matéria desgastante e obrigatória para o aluno? De que modo deve-se ensinar a Matemática, para que ela perca essa identidade de 'Bicho de Sete Cabeças?'
Para que todas essas respostas estejam mais claras e definidas devemos, primeiramente, esclarecer e entender que o aluno não chega até a escola como um ser inanimado, sem conhecimentos anteriores. Todas as crianças hoje têm contato direto com a informática, com os meios de comunicação, com a tecnologia em geral; enfim, elas fazem parte de uma sociedade moderna e vivenciam experiências, das mais diversas. Portanto, trazem muitas informações para a escola, informações estas que são muito úteis para que a Matemática deixe de ser uma matéria totalmente alheia ao nosso cotidiano. Assim, para que se possa compreender melhor, cito um exemplo: Ao introduzir o assunto sobre porcentagem, o professor não precisa ficar falando e discorrendo sobre a necessidade da porcentagem e onde a encontramos, basta apenas pedir aos alunos que façam uma pesquisa, ou seja, uma tomada de preços de algumas lojas do comércio (ou até mesmo pelo computador, através da Internet), para que depois possam ser analisados em sala de aula, chegando-se à conclusão, professor e alunos, da necessidade de calcular a porcentagem partindo de algo tão familiar a todos. Pode-se também demonstrar números positivos e negativos com extratos bancários, ou as quatro operações básicas através simulação de um supermercado, e muitos outros.
Desse modo, fica claro como é possível mudar a imagem da Matemática e esclarecer sua função como responsável pelo desenvolvimento do raciocínio lógico, através da interpretação de situações-problema de nosso cotidiano. Evidentemente que continua existindo a necessidade do 'treino' e dos exercícios de fixação em cadernos e livros. O que diferencia essa nova visão da Matemática, é a maneira de transmitir o conteúdo de ensino. Também altera-se a função do professor, que não é mais aquela figura austera e detentora do saber, mas é aquele que auxilia e direciona a aprendizagem, levando o aluno à compreensão significativa da Matemática, relacionando-a à sua própria vida.
Os profissionais da área da educação, principalmente de Matemática, devem entender que o aluno é como uma 'pedra bruta' que necessita ser lapidada para que se torne uma 'pedra preciosa', mas que depende - e muito! - da ação de um artista habilidoso para moldá-la e mostrar ao mundo o seu valor, função esta destinada ao professor: instruir, valorizar, desenvolver e adaptar o conhecimento que o aluno já possui - assim como o artista, que não cria ou constrói a matéria-prima, ele apenas descobre e realça o seu brilho natural! Para que realmente o aluno se transforme em uma 'pedra preciosa', não basta apenas desenvolver o seu raciocínio lógico através da Matemática, é preciso formá-lo cidadão, sabedor de sua função na sociedade. É preciso despertar-lhe a ética, a moral e a real cidadania, pois de modo contrário essa 'jóia' terá apenas um brilho parcial, correndo o risco de perder completamente o seu valor, pois de nada adianta desenvolver a agilidade do raciocínio se este não for usado para a construção de um aluno crítico e coerente, que irá colaborar na construção de uma sociedade mais consciente e justa.

Maria Eliete Francischinelli
Professora de Matemática
formada pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
Nossa Senhora do Patrocínio
e Professora. Titular de 4ª à 8ª séries,
no Colégio São Pedro e São Paulo - Itu / SP.


  
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Edição:

N.º 67
Ano 7, Abril 1998

Autoria:

Maria Eliete Francischinelli
Colégio São Pedro e São Paulo - Itu / SP, Brasil
Maria Eliete Francischinelli
Colégio São Pedro e São Paulo - Itu / SP, Brasil

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