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Todas as pessoas nascem com um dom McNamara

Começou a surfar aos 11 anos, quando mudou de Pittsfield (Massachusetts, EUA), onde nasceu, para o Havai. Foi lá que descobriu a paixão pelo surf, paixão que cresceu como o tamanho das ondas que sempre fez questão de procurar. Surfou ondas nos quatro cantos do mundo, entre as quais as provocadas pela queda de blocos de gelo no Alasca.
Este extreme waterman, que enfrenta sem medo ondas com 30 metros de altura, é um homem sensível ao meio que o rodeia e não lhe falta o sentido de responsabilidade social. Participa em vários projetos com crianças, designadamente um com a fundação Surfer’s Healing, que leva crianças autistas a surfar. Além de sessões de surf, visita escolas e faz palestras para os mais novos.
“Sou muito afortunado e agradecido por poder fazer o que gosto como profissão. E uma das mensagens que gosto de passar é que todos nascemos com um dom, com alguma coisa que fazemos melhor do que o resto das pessoas. Temos de nos empenhar para descobrir que dom é esse e seguir essa paixão. Temos de traçar objetivos e o percurso para fazer disso a nossa vida. Gosto de falar com as crianças sobre o futuro e de as encorajar a fazerem o que gostam, para serem felizes na vida”, disse Garrett McNamara à PÁGINA.
Essencial é, também, falar-lhes da importância da Educação – “porque a Educação é tudo” – e de outros temas, como a importância de uma boa alimentação “para uma vida saudável e longa” e o Ambiente. “Fazemos questão de lembrar às crianças que quando atiram para o chão um papel, uma pastilha elástica ou outra coisa qualquer, mesmo que seja a muitos quilómetros da praia, isso acaba por ir parar ao mar. Gostamos de ajudar as crianças a compreenderem a importância de não deitar lixo para o chão, até porque em nossa casa também não o fazemos. O mundo é um recreio de todos”, frisou.

A maior onda. Na escola foi bom aluno, embora não conseguisse deixar de pensar no surf. “Era tão apaixonado que só conseguia pensar nisso. Mas estava bem na escola. Quando terminei, sabia que estudar era o mais importante.” Apesar de poder distrair, Garrett McNamara considera que o surf tem caraterísticas que podem contribuir para uma boa prestação escolar: preparação, paciência, disciplina, concentração, confiança e um estilo de vida saudável.
“Quando estamos na água, relacionamo-nos com a natureza e também fazemos exercício. E, como em tudo na vida, se é a nossa paixão, é divertido, com certeza”, adiantou o homem que projetou a Nazaré no mundo, salientando que “há inúmeras maneiras de se estar relacionado com o surf”: através da fotografia, da música, do trabalho manual (construção e reparação de pranchas), da produção... Uma boa dica para quem gosta desta modalidade desportiva, mas não tem talento para apanhar ondas. A sensação de surfar ondas gigantes é muito difícil de descrever. É como se estivéssemos dentro de um carro, numa corrida na montanha e, na sequência de uma avalanche, tentarmos fugir dela mas ao mesmo tempo fazermos por ficar ao seu alcance. Difícil de imaginar?
É essa adrenalina, essa sensação, que McNamara procura quando enfrenta ondas gigantes como as da Nazaré. “Surfar estas ondas é muito estimulante e divertido. Nunca sabemos como vai ser, por isso é muito desafiante. Não há nada como apanhar a onda perfeita: és tu no teu mundo. Parece que o tempo fica suspenso. Não há nada parecido com isso.”

Segunda casa. Nos últimos anos, muitos surfistas de renome internacional têm vindo espreitar e experimentar as ondas da Praia Norte. E McNamara tem estado mais vezes na escarpa junto ao farol, a ver outros surfarem. “Na escarpa tenho a perspetiva que toda a gente tem. E não há outro lugar no mundo onde seja tão espantoso ver as ondas gigantes.”
Na Nazaré, onde está com alguma regularidade, no âmbito do projeto Zon North Canyon, além das maiores ondas que já viu no mundo, encontrou gente hospitaleira, o carinho e o apoio dos locais. “Somos mais saudáveis se formos felizes. E se conseguisse converter em dinheiro o amor e o apoio que recebo de Portugal, seria um homem muito rico.”
Em 2010, quando chegou pela primeira vez, apaixonou-se pela vila portuguesa, onde no ano seguinte surfou a maior onda do mundo e em 2012 casou com Nicole Macias – dois feitos marcantes na sua vida.
À mesa da D. Celeste, restaurante na marginal, onde a PÁGINA conversou com o surfista, Garrett McNamara gabou a gastronomia portuguesa e mostrou estar “muito orgulhoso” por ter alcançado a maior onda do mundo com e por Portugal. A Nazaré é agora a sua segunda casa: “não falta mais nada na minha vida”.

Maria João Leite


  
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Edição:

Edição N.º 202, série II
Inverno 2013

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