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À espera do futuro

Olhando e ouvindo hoje o que dizem e fazem os nossos “pregadores” dos púlpitos da política e das tribunas do poder, não será imperioso questionar onde o passado se termina e o futuro começa?

O professor António Nóvoa escolheu para epígrafe do seu ensaio “Educação 2021: para uma história do futuro” este excerto da “História do Futuro”, do Padre António Vieira: “O tempo, como o mundo, tem dois hemisférios: um superior e visível, que é o passado, outro inferior e invisível, que é o futuro. No meio de um e outro hemisfério ficam os horizontes do tempo, que são estes instantes do presente que imos vivendo, onde o passado se termina e o futuro começa.” E logo a seguir, iniciando a síntese introdutória da substanciosa análise que faz aos sistemas educativos, nomeadamente operados desde 1870 em Portugal, reflete:
“Pensar o futuro é um exercício arriscado e, muitas vezes, fútil. Mas, apesar dos avisos, não resistimos à tentação de imaginar o que nos irá acontecer, procurando, assim, agarrar um destino que tantas vezes nos escapa. Como escreveu Pierre Fuster – a quem este ensaio é dedicado – o horizonte não existe para nos trazer de volta à origem, mas para nos permitir toda a distância que temos a percorrer. O homo viator constrói uma casa apenas para o tempo necessário, pois é caminhando que ele se encontra e descobre o sentido da sua acção.”
[O ensaísta] não se importará, porventura, que um leitor marginal da especialidade, como nós somos, extrapole aquelas duas citações para, no atual “horizonte do tempo”, se questionar sobre se todos os horizontes que mereceram registo na História não serão simplesmente trechos de um mesmo rio de que só poderemos conhecer a origem e cujo termo, mesmo considerando a ocorrência de interrupções e desvios na corrente, só como “exercício arriscado” poderemos imaginar. Sirva-nos neste exercício que o Quinto Império vieirista (e pessoano) não passou de uma utopia do futuro almejado e que no horizonte do tempo em que foi formulada já o emérito pregador fazia, no Maranhão, o seu Sermão aos Peixes, alertando para as contingências que condicionavam o caminho certo para esse futuro. Segundo ele, eram condicionantes a qualidade dos “pregadores” e a natureza dos “peixes”, distinguindo nestes os mais fortes, que comiam os mais fracos, e aqueles que, apesar de serem em maior número, se deixavam comer. No grupo dos primeiros, destacava o polvo: “ (…) com aquele seu cabelo na cabeça parece um monge; com aqueles seus ralos estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo dessa
Olhando e ouvindo hoje o que dizem e fazem os nossos “pregadores” dos púlpitos da política e das tribunas do poder, não será imperioso questionar onde o passado se termina e o futuro começa?

Leonel Cosme


  
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Edição:

Edição N.º 200, série II
Primavera 2013

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