Página  >  Edições  >  Edição N.º 193, série II  >  Educação aberta

Educação aberta

O software livre é um conceito que surge em 1983, cujo mentor foi Richard Stallman, e baseia-se na ideia de que os programas de computador desenvolvidos segundo esta licença podem ser usados, copiados, estudados e redistribuídos sem restrições. Esta ideia conquistou rapidamente a internet e alargou-se a outras áreas para além da informática.
O open source é um conceito semelhante e consiste, essencialmente, em desenvolver projectos de forma aberta e por uma comunidade com interesses e competências comuns e complementares; baseia-se na abertura e na confiança e todos têm acesso à “fonte” do saber, podendo ler e estudar esse “código” e participar no seu desenvolvimento. Tal como todas as ideias, nasceu da cabeça de uma pessoa; parecia algo impraticável, mas conquistou o mundo novo do ciberespaço – quem não conhece o Linux, o Firefox, o Moodle, o Open Office? Todos eles desenvolvidos em comunidades abertas.
Mas afinal quem é o dono destes projectos?
Por que trabalham as pessoas de forma gratuita para a comunidade e de que forma o ensino pode beneficiar ou participar? Grande parte do trabalho voluntário não tem outra recompensa que não seja o reconhecimento dos seus pares, mas ajuda também ao crescimento pessoal e profissional dos colaboradores, à aprendizagem e resolução de problemas em comum. Esta é uma nova forma de aprender, seja a programar computadores, a fazer traduções, a formar outros elementos da comunidade, a criar conteúdos, a organizar eventos, etc. Penso que este é, ou será em breve, o ambiente natural de ensino e aprendizagem das novas gerações, sobretudo a nível do Ensino Secundário e Superior.
Pergunto-me por que não estamos já a trabalhar com os alunos recorrendo a estas ideias? Por que não fazem as turmas traduções de projectos de Inglês para Português? Por que não vemos mais alunos a colaborar na programação de sites? Por que vemos tão poucos alunos a participar na Wikipédia? Por que escasseiam em Portugal os eventos abertos?
Os trabalhos escolares terminam muitas vezes em cartolinas amarrotadas em armários e apenas são vistos por uma pessoa ou em textos que são lidos uma só vez. Quanto poderíamos beneficiar se a Escola se envolvesse com estas comunidades, se os alunos vissem os seus trabalhos publicados e reconhecidos a engrossarem o seu portfólio de aprendizagem?
Nunca como hoje se viveu um momento em que o acesso ao conhecimento fosse tão fácil (basta ir ao Google pesquisar alguma informação ou à Wikipédia procurar um termo), mas temos de olhar também para o lado da construção do saber.
Existem milhares de projectos com competências variadas e que ajudam os jovens a aprender ao mesmo tempo que se sentem úteis.
Não se pense que é fácil captar a atenção dos jovens para determinados assuntos, ou motivar adolescentes para trabalhar em rede com equipas dispersas pelo mundo. A imensidão de informação trouxe problemas de dispersão, não é possível abarcar tudo o que é criado neste novo mundo. O problema das muitas seduções que existem na internet não é fácil de resolver em contexto de sala de aula. É mais fácil estar a “chatar” com um colega do que escrever complexas linhas de código PHP ou a traduzir com rigor um texto em Inglês. Tudo isso faz parte das tarefas e desafios do professor do século XXI e das escolas tecnologicamente avançadas.
Mas não bastará ter equipamentos – será necessário que as comunidades educativas conheçam e participem nos conceitos que estão a mudar o mundo. Os benefícios do acesso a projectos mundiais no nosso computador são imensos para alunos e docentes. Estaremos mesmo a caminho de um novo paradigma de aprendizagem, em que o foco está em aprender colaborando em tarefas e com comunidades dispersas? Conseguiremos abrir a sala de aula ao open source?

Jorge Oliveira Fernandes


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

Edição N.º 193, série II
Verão 2011

Autoria:

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo