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Ensino Superior, mediação sociocultural e sociopedagógica

A oferta de formação superior em mediação está muito condicionada pela instituição de formação em que se escolhe seguir determinado curso. Varia não só de área para área, mas também, e sobretudo, de instituição para instituição de formação.

 Propusemo-nos procurar saber do interesse das universidades e institutos politécnicos portugueses na inclusão da mediação sociopedagógica, ou sociocultural, em contexto escolar, nos seus planos de estudo. Com vista a obter uma radiografia de como os cursos superiores (licenciatura, pós-graduação e mestrado) têm preocupações ou não de enquadrar a mediação sociopedagógica ou a mediação em geral, como saída profissional, fizemos uma análise de todos os planos de estudo dos cursos portugueses relativos às áreas das ciências sociais e humanas, bem como no âmbito das ciências da educação, com excepção dos específicos da formação de professores, já que estes têm as saídas profissionais bem definidas, embora, possam colocar, ou não, a ênfase mais ou menos acentuada no professor enquanto mediador. Em termos gerais, à primeira vista, os cursos parecem oferecer uma formação em mediação que vai para além da especificidade em mediação para a “resolução de conflitos”. Trata-se de uma oferta de formação a um nível mais alargado da mediação, intercultural entre outras, através da exploração de conceitos e teorias que vão para além da resolução de conflitos, que corresponde ao que podemos designar de “fim da linha”.
Contudo, no âmbito específico dos cursos de pós-graduação da área da mediação sociopedagógica e da mediação em contexto escolar, a temática incide substancialmente na resolução de conflitos em contexto escolar. Mesmo assim, esta área constitui uma oportunidade para os profissionais das restantes áreas do trabalho social realizarem uma formação superior, na área da mediação, depois das suas licenciaturas. A expressividade da formação para a mediação sociopedagógica, nos cursos de Psicologia, é bastante reduzida, sendo que nos cursos identificados como potenciais fontes de formação em mediação restringem-se, na sua grande maioria, à mediação para a resolução e gestão de conflitos. A nossa análise mostra que a oferta de uma formação superior em mediação, seja ela sociocultural ou aplicada ao contexto escolar, como é o caso da sociopedagógica, está muito condicionada pela instituição de formação em que se escolhe seguir determinado curso. A oferta desta formação varia não só de área para área, mas também, e sobretudo, de instituição para instituição de formação, provavelmente decorrente das áreas específicas de investigação dos seus docentes. Percebemos, também, que a maioria das áreas e dos cursos que proporcionam uma oferta de formação em mediação sociocultural e sociopedagógica reduz a intervenção e a formação à mediação para a resolução de conflitos, sobejamente presente na análise aos programas curriculares, planos de estudo e objectivos gerais dos cursos. Na breve análise de dados que apresentamos e discutimos noutros textos, observa-se o papel e influência da área da Psicologia, quer na representatividade quantitativa de cursos que remetem para a mediação, quer na prevalência de unidades curriculares presentes em outras áreas e cursos. Muitas das unidades curriculares sinalizadas pelos conteúdos privilegiados para uma formação em mediação sociopedagógica são, também elas, estruturadas segundo conteúdos e metodologias de âmbito essencialmente psicológico. A área da Psicologia acaba, assim, por monopolizar a formação em mediação nas instituições de Ensino Superior em Portugal. Mediação que, contudo, é muito fincada numa óptica da resolução e transformação de conflitos e muito pouco no trabalho a montante destes.
Parece cristalizar-se o conflito e atentar-se pouco na dimensão preventiva e relacional da tensão social, constante entre grupos e/ou pessoas como facto normal do encontro e desencontro de culturas, que pode gerar conflitos se não houver mediação no processo.
A relação entre grupos e pessoas é sempre uma relação de encontros e desencontros, uma relação intercultural, social e potencial de diálogos e anti-diálogos; logo, uma relação tensa. Mas a tensão não é problema social. E os conflitos podem ocorrer, ou não, dependendo muito do trabalho de mediação sociocultural desenvolvido pelos próprios actores em presença ou por uma terceira pessoa – o designado mediador sociocultural. E isto vai, como temos dito, muito para além, ou melhor, para aquém, da psicologia da resolução de problemas e conflitos.

Ana Vieira


  
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Edição:

Edição N.º 193, série II
Verão 2011

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