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Contributos dos manuais para a formação de professores no ensino de botânica

O papel determinante do manual escolar e o seu maior ou menor contributo na didáctica constituem uma fonte de investigação sobre e na realidade pedagógica. Esta investigação pode ser organizada pela via directa, ou por uma via de desobstrução, uma vez que há fracções da cultura escolar que não tiveram o manual como objecto e a pedagogização do livro escolar não se efectuou sempre da mesma forma e com igual intensidade na história da educação.
Vistos como importantes instrumentos pedagógicos, culturais e ideológicos, os manuais estão no centro dos interesses da investigação em educação. Nesta linha de ideias, uma análise complexa a manuais escolares pode constituir uma fonte de informação importante para a caracterização da Botânica escolar em Portugal e dos processos educativos e didácticos que nela ocorrem. Estes documentos fornecem-nos informações e interpretações da cultura, do imaginário e dos processos de escolarização, assim como das metas e das práticas educativas.
Pretendendo-se que a Escola transforme o discurso científico num discurso didáctico compreensível para os alunos, é igualmente importante que os manuais escolares o façam. Pretendendo-se também que esse discurso didáctico estimule nos alunos a curiosidade, o espírito de descoberta e de análise de situações da vida, em vez de os ensinar a receberem passivamente um conhecimento já feito, é igualmente importante que os manuais escolares cumpram estes requisitos. Por isso mesmo, na concepção de um manual escolar, entendemos dever ser dada atenção à linguagem científico-didáctica, mas também ao modelo pedagógico que o manual veicula.
Apesar do interesse dos manuais escolares no âmbito das actividades pedagógicas e da sua importância para a promoção de uma cultura escrita, nos estudos efectuados, constatámos que estes eram utilizados com objectivos que permitiam a promoção de métodos de ensino baseados na reprodução de conhecimentos e competências. Neste sentido, os manuais constituíam-se numa base de trabalho pedagógico importante ao contribuírem para a adaptação cultural e social, mas não favoreciam o fortalecimento das capacidades de reflexão e de intervenção. Registámos, desta forma, uma interpretação restrita do ensino das Ciências da Natureza e do processo de escolarização, tal como uma valorização instrumental da cultura científica, nas quais o manual escolar se tornou no meio pedagógico central do processo de escolarização.
Assim, os manuais escolares continuam a influenciar de forma acentuada as concepções e as práticas dos professores quanto ao ensino das Ciências da Natureza em geral, e da Botânica escolar em particular. O papel determinante do manual escolar e o seu maior ou menor contributo na didáctica constituem, então, uma fonte de investigação sobre e na realidade pedagógica.

Fernando Guimarães


  
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Edição:

Edição N.º 187, série II
Inverno 2009

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