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Um novo projecto para a Profedições e o jornal a Página

Nunca escolhi os projectos em que me envolvi.
Foram eles que me escolheram, ou o acaso, ou a necessidade deles.
J. Paulo Serralheiro

Com a publicação deste número 184, o jornal a Página completa 17 anos de publicação ininterrupta. O nº zero foi ao encontro dos leitores em Dezembro de 1991. Na manchete desse numero escrevíamos: «Adeus Roberto: entra Durão, sai Carneiro». Assim se dava conta do abandono do governo por parte do então ministro Roberto Carneiro e a entrada do novo ministro Diamantino Durão. Ambos ministros dos governos de Cavaco Silva. Assim, a Página acompanhou a educação nacional desde o início da aplicação da Reforma de Roberto Carneiro até à actualidade.
No que se refere à regularidade e pontualidade, costumo dizer aos meus colaboradores que na televisão o tempo se mede ao segundo, na rádio ao minuto e na imprensa uma hora é um atraso intolerável. Nestes últimos 17 anos a Página saiu sempre na primeira semana de cada mês. Por imposição da distribuição, nos primeiros anos saiamos à quarta-feira, anos depois à terça e nos últimos anos à segunda. Orgulho-me deste rigor e completa ausência de falhas porque é também por aqui que passa a natureza, o ser e a seriedade das publicações.
Com a mesma pontualidade e empenho com que mês após mês fomos ao encontro dos leitores, procurámos acompanhar, registar e comentar, a vida educativa nacional e internacional. Só foi possível alcançar este objectivo graças às centenas de colaboradores que de forma gratuita, sábia, empenhada, e muitas vezes sacrificada, escreveram este jornal ao longo destes 17 anos. Lendo e editando mensalmente os textos de cada um, guardo a memoria da leitura de todos, o jeito de cada um, e de todos guardo o que fui capaz de aprender sabendo que nunca encontrarei a palavra certa para exprimir o que devo a cada um.
A todos peço desculpa da arrelia da insistência nos prazos e no tamanho certo dos textos. A todos aplaudo a liberdade de pensar e de escrever. A todos agradeço a partilha, independente e livre, do Estatuto Editorial da Página. Nunca nos quisemos, nem fomos, um jornal hipocritamente neutro. Assumimos publicamente uma linha política, sempre que for imperativo escolher entre capital e trabalho, escolhemos o trabalho. Entre pobres e ricos, escolhemos os pobres. Entre opressão e liberdade, estamos do lado da liberdade. Sempre nos assumimos como um jornal de causas que assumiu os Direitos Humanos como questão séria a defender em todas as circunstâncias da vida. Um jornal onde as liberdades de opinião e de expressão, esses direitos fundamentais do ser humano, são intocáveis.
Um jornal é a síntese dos que o escrevem e dos que o lêem. O jornal a Página foi essa cumplicidade, essa relação dialéctica de escritores e leitores. Os 184 números do jornal ficam agora à guarda das bibliotecas e na memória dos muitos que o escreveram e dos que o leram. Um dia, quem sabe, talvez volte a despertar leituras.

Dezassete anos depois temos de mudar

Temos de mudar por duas razões principais. A primeira tem a ver com custos. Estes, perdido qualquer apoio na distribuição, tornaram-se uma despesa mensal incomportável para a nossa pequena editora. Comparado com outros jornais, a Página tem um baixo custo de produção. No entanto, a base de leitores que sempre o viabilizou é o grupo de assinantes sócios do Sindicato dos Professores do Norte (SPN). Sem eles a Página não teria sido viável. Reconheço que o custo mensal desse «pacote de assinaturas» é elevado quando pago por uma só entidade como acontece com o SPN. Esclareço que só foi possível manter a publicação do jornal em 2008 - tendo em conta a receita mensal efectiva - recorrendo ao lucro que havíamos acumulado com a venda de livros. Esgotado esse saldo acumulado, a receita disponível e previsível para 2009, não permite continuar a edição mensal.
A segunda razão para mudar deriva da primeira. Se o aumento de custos não permite manter o que está, é preciso procurar um novo caminho. Precisamos de uma boa alternativa. É dos traços gerais dessa outra alternativa [ainda em acabamento] que aqui vos quero dar conta.
Com este número cessaremos a publicação mensal do jornal a Página. Propomo-nos apostar em dois novos produtos editoriais. Dois produtos que garantam e ampliem a informação especializada disponibilizada aos nossos actuais leitores, abram as portas a outros e potenciem o aumento de receitas.
Propomo-nos transformar o nosso site www.apagina.pt num portal multimédia especializado em educação, ciência e ensino com uma forte componente informativa em campos como a sociedade, a política e a cultura. Este portal, de recursos informativos-e-educativos e também de debate, partirá e tirará partido da forte base documental que construímos nos últimos dezassete anos. Também passará a trabalhar, de forma equilibrada, o texto, o som e a imagem. Será também um espaço aberto à edição de trabalhos científicos e culturais - sem limites de espaço - dos nossos colaboradores e leitores.
A sua existência na Internet amplia os espaços de colaboração. As relações que a Página estabeleceu com a Galiza e o Brasil e com núcleos dispersos noutros países, podem e devem ser aprofundadas com a comunidade educativa de países como Angola, Moçambique, Cabo Verde e outros PALOP. O portal multimédia pode ser um instrumento adequado a estes fins.
A segunda linha de trabalho passa pela manutenção de uma âncora no mundo da edição impressa. Para reduzirmos custos na produção e distribuição temos de espaçar as edições. Propomo-nos apostar numa publicação trimestral ligada a cada uma das estações do ano. A periodicidade larga, e com maior peso, aconselha o formato de revista em vez do jornal. Assim, propomo-nos editar uma revista no 1º dia de cada uma das estações do ano. A revista é mais durável e coleccionável e entra melhor no mercado. Pode ser um melhor contributo para aqueles que de uma forma mais pausada e prolongada queiram melhorar a sua formação profissional, pessoal e cidadã. É, pelo menos, uma experiência a realizar.
Nesta fase de acabamento do projecto, estamos em crer que podemos não só salvaguardar como potenciar o desenvolvimento do trabalho que se materializou no jornal a Página. Por outro lado, o portal que nos propomos trabalhar pode estar mais de acordo com as exigências do tempo presente e os desafios do futuro e pode ser uma plataforma de diálogos necessários sobre a educação.
Assumindo, como esperamos, a publicação da revista a Página, a primeira seguirá para cada leitor no primeiro dia da próxima Primavera. A rotina da chegada mensal do exemplar do jornal a Página vai ser quebrada em Janeiro. Não foi sem angústia que sentimos tal falta com antecedência. Mas, olhados de frente os desafios que a realidade nos impõe, é com esperança renovada que vos convido a todos, colaboradores e leitores, a percorrer este novo caminho. As vossas sugestões, as vossas criticas, como sempre, são um estímulo, um alento necessário.

Nota:
Por necessidades óbvias, informei com antecedência os actuais colaboradores que a escrita para o jornal terminava com o número de Dezembro. Agradeço todas as mensagens de amizade e solidariedade que me enviaram. Elas foram essenciais à abertura deste novo ciclo. Fizeram-me sentir que vale a pena continuarmos juntos a fazer informação para professores. Os educadores e professores merecem, mais ainda nesta hora de colectiva irritação e arrelia. Os docentes precisam de construir os seus órgãos de comunicação social.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 184
Ano 17, Dezembro 2008

Autoria:

José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.
José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.

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