Página  >  Edições  >  N.º 182  >  Experiência vivida num processo de ensino online

Experiência vivida num processo de ensino online

Confesso que o primeiro contacto com um curso sobre ensino online foi de insegurança - sensação talvez não muito diferente da que tenho quando faço alguma operação de maior responsabilidade na Internet. Não tinha, à partida, qualquer experiência de ensino online. O desenvolvimento das actividades, sobretudo o módulo de ambientação, foi-me dando alguma confiança e a confirmação de que os percursos anteriores, de professor e de utilizador da Internet, eram compatíveis com as propostas que iam sendo feitas pelo formador.
Começava então a sentir-me interlocutor com os restantes colegas e com o formador e a viver as primeiras práticas sociais online, numa situação de aprendizagem ? a aprendizagem do sentido dos silêncios online, o debate, as formas de construção de identidade de cada um dos participantes, as redes de construção do poder, o surgimento e resolução de conflitos, a aprendizagem e construção colaborativa de saberes, as diversas formas de generosidade e entusiasmo.
Interrogava-me sobre a natureza deste lugar: Como realizar aí as aprendizagens que me eram propostas? Como construir uma atitude de observação-participação igualmente necessária às actividades de formação em que estava envolvido e às que teria de preparar no final do curso? A participação era-me exigida mas constituía também um treino, num ambiente específico, para a investigação antropológica. Foi sobretudo a observação que me levou a adoptar a forma de o fazer. A aprendizagem deu-se pois através de um processo de imersão no ambiente criado e a partir deste a procura de ferramentas teóricas de fundamentação desta prática. Esta foi-se tornando aliciante e não menos a fundamentação epistemológica que exigia. Comecei a aperceber-me que o e-learning não é um mero repositório de receitas para que pareciam apontar alguns documentos fornecidos ou bibliografia consultada. Parecia possível desenvolver-se aí uma perspectiva coerente de interrelação entre o carácter cooperativo (social) e construtivista (cognitivo) de uma acção educativa e integrar as características específicas do e-learning.
Algumas situações de ambiguidade ou de penumbra fizeram-me reflectir sobre a natureza desta prática de ensino: 1) "orquestração" das actividades e a sua importância no processo remeteram-me para o ensino programado; 2) a acessibilidade dos meios (baratos e fáceis de experimentar e de alterar) aos professores parecia ser uma consistente oportunidade/possibilidade de conceber actividades de ensino adequado às sociedades fragmentadas ? diversidade de interesses, aprendizagem a partir de fragmentos, de pedaços aparentemente soltos de conhecimento partilhado e usado (citado, criticado, ignorado); 3) a simplicidade das ferramentas disponíveis e utilizáveis constituía, em meu entender, instrumento de criatividade e interacção importantes para esta prática social de aprendizagem.
Particular importância em todo o processo foi a performance virtual do formador, ou seja, como o formador organizou a formação, que comentários fez, que formas de ajuda e feedback utilizou, como formulou a avaliação, que sistematização fez dos conteúdos no final de cada actividade. A imersão no ambiente foi consequentemente uma experiência de uma imersão orientada e direccionada por um sentido preciso. Realizei as primeiras práticas que me foram pedidas com base no modelo em que participava e que me orientava. Optei por uma "navegação de cabotagem", muito próxima da terra firme, das práticas em que participei como formando, do guia de orientação evitando assim a insegurança.
Como em qualquer percurso iniciático as esperanças o ensino online são frequentemente excessivas (fascinantes ou fantasiosas). As práticas, por vezes, modestas para quem inicia um percurso autónomo, sem guia. Por isso durante o percurso alguém (vários colegas e eu próprio) referia (referíamos) a necessidade de continuar a formação, o debate, a discussão, de conhecer a prática que cada um desenvolveu, de solidificar o muito que foi tratado num curto espaço de tempo e com profundas implicações no desenvolvimento profissional - talvez a mais radical mudança que está a decorrer na nossa vida profissional (como na sociedade) e um desafio de formação contínua.

José da Silva Ribeiro


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 182
Ano 17, Outubro 2008

Autoria:

José da Silva Ribeiro
Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais. Laboratório de Antropologia Visual. Universidade Aberta
José da Silva Ribeiro
Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais. Laboratório de Antropologia Visual. Universidade Aberta

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo