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Mais um alerta

"O planeta Terra é finito. Os recursos naturais são finitos e os seres humanos comportam-se como se fossem infinitos. Não se pode extrair indefinidamente os recursos naturais e não podemos poluir indefinidamente".
(Hubert Reeves)

No passado dia 22 do mês de Abril comemorou-se o Dia Mundial da Terra. Já passaram algumas semanas após essa data. Hoje, no momento que estou escrevendo este texto, veio-me à lembrança o astrofísico e cientista Hubert Reeves, famoso desde que deu à estampa, em meados dos anos 80, o belíssimo livro, "Um pouco mais de Azul". Há uns anos atrás esteve no nosso país, aquando do lançamento da sua última obra, "Aves, Maravilhosas aves. Os diálogos do Céu e da Vida" (ainda este ano surgirá mais uma publicação da sua lavra).
Nessa altura, quando esteve no nosso país, em conversa com um jornalista de um diário de expansão nacional, a mensagem preocupante que nos deixou foi lapidar:" Um século vivido da mesma forma que vivemos hoje seria suficiente para tornar o planeta inabitável para os humanos". E mais adiantou. "O planeta Terra é finito. Os recursos naturais são finitos e os seres humanos comportam-se como se fossem infinitos. Não se pode extrair indefinidamente os recursos naturais e não podemos poluir indefinidamente". A mensagem mantém-se, neste ano de 2008, ainda com mais acuidade. Na realidade, a situação não tem deixado de agravar-se.
As emissões CO2 continuam a ultrapassar os limites. A China, actualmente muito dependente do carvão devido ao forte incremento industrial que se está a verificar no país, é hoje o maior emissor dos gases causadores do efeito de estufa. A manter-se este ritmo crescente de industrialização coloca-se em sério risco a habitabilidade e a qualidade de vida no planeta que todos partilhamos. Continua a queimar-se lenha, carvão vegetal, gás natural e carvão mineral para cozinhar e para aquecimento. Ultimamente os fogos florestais, no continente europeu, nos Estados Unidos e na Austrália têm aumentado exponencialmente, quer pela imprevidência e actos criminosos do ser humano, quer pelas temperaturas elevadas que propiciam o deflagrar desses mesmos fogos. Estas actividades aumentam a quantidade de dióxido carbono na atmosfera e é, este mesmo gás que acaba por reter o calor do sol. Igualmente são lançados na atmosfera outros gases que retêm o calor, tais como o óxido nitroso, o metano, o clorofluorcarbono, contribuindo ainda mais para o efeito de estufa, para o consequente aquecimento global e para a destruição da camada de ozono na estratosfera (recentes investigações, relatório da National Research Council no pretérito 23 de Abril do presente ano, concluíram que respirar ar poluído com ozono ao nível do Sol ? que é um componente do smog, e não o ozono encontrado na atmosfera que protege a terra dos raios ultra-violeta ? pode matar prematuramente).
De acordo com a Agência de Protecção do Meio Ambiente, com sede em Washington, o ser humano lança, por ano, milhões e milhões de toneladas dos gases supracitados que permanecem décadas e décadas na atmosfera contribuindo para o aquecimento da Terra. Nos últimos cem anos a média de temperatura da superfície terrestre aumentou entre 0,3 e 0,6 graus célsius.
É ponto assente que o avanço tecnológico, a poluição e o efeito de estufa estão provocando danos irreparáveis no nosso planeta e, por consequência, a natureza e o meio ambiente têm-se ressentido dessa agressão. Segundo Reeves, a deterioração avassaladora dessa mesma natureza e a depauperação contínua dos recursos naturais irão provocar graves problemas à Humanidade (já estão provocando) que se poderão traduzir na inabitabilidade do planeta dentro de um a dois séculos. Num contínuo crescendo de desolação e morte gradual das espécies.
O famoso astrofísico pensa que os dirigentes e governantes mundiais das potências industrializadas - bem como os dirigentes de outros países que aspiram ao pleno(?) desenvolvimento -, se encontram num verdadeiro beco sem saída. Ou cessam de deteriorar o planeta com a acumulação de lixo variado, incluindo lixo de resíduos nucleares, e exaurir os seus recursos naturais numa sofreguidão que já se torna incontrolável (veja-se a desflorestação da Amazónia) ou será a catástrofe total num horizonte não muito longínquo. Efectivamente, o desenvolvimento e o progresso tão apregoado e desejado pelos dirigentes e governantes mundiais tem um preço e um ónus que passa(m) despercebidos(s) ao senso-comum e à generalidade das pessoas mais preocupadas com os aspectos mais comezinhos do dia-a-dia. ( FIM DA 1ª PARTE)

António Cândido Miguéis


  
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Edição:

N.º 180
Ano 17, Julho 2008

Autoria:

António Cândido Miguéis
Professor
António Cândido Miguéis
Professor

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