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Último povo nómada do Canadá apresenta projecto social ao Governo

Os algonquinos (indígenas) de Kitcisakik, "os últimos nómadas" do Canadá, habitam pequenas casas de madeira sem água e electricidade localizadas no meio de uma vasta área florestal situada a 450 quilómetros ao norte de Montreal.
Kitcisakik é uma autêntica curiosidade histórica. Os habitantes desta comunidade ameríndia recusam-se desde há muito tempo a viver numa reserva indígena, preferindo assumir o estatuto de "ocupantes ilegais" das suas terras ancestrais. Foram os últimos ameríndios do Canadá a abandonar a vida nómada. Alguns chegaram a emigrar para antigas reservas de caça, mas esta prática é hoje em dia considerada marginal pelos 428 habitantes.
O Canadá conta actualmente com cerca de 1,3 milhões de autóctones distribuídos por 640 comunidades. Aproximadamente nove mil algonquinos, povo indígena do Canadá, vivem ao sul da baía de James, no Quebec.
"Os habitantes de Kitcisakik tinham alguma desconfiança em relação às intenções do Governo, acreditando que este pretendia encurralá-los numa reserva de forma a tomar o poder sobre o seu território e os seus recursos. A resposta foi sempre um não categórico ao estatuto de reserva", explica James Papatie, antigo chefe dos algonquinos.
Sem estarem abrangidos pelo estatuto de reserva, os algonquinos de Kircisakik não têm direito aos subsídios do governo canadiano previstos pela "Lei sobre os Indígenas", um texto adoptado em 1876 que regulamenta o ordenamento das terras e fiscaliza os autóctones.
Apesar de estarem localizados numa província rica em hidroelectricidade, os edifícios públicos e as casas do povoado funcionam à base de geradores e não possuem água canalizada. Para receberem educação, as crianças têm apenas duas alternativas: ou manterem-se "exiladas" na localidade, onde são educadas pelas próprias famílias, ou viverem com familiares em Vale de Ouro, cidade localizada a 80 quilómetros, para que possam frequentar a escola local.
No entanto, o quotidiano dos algonquinos está gradualmente a mudar. Uma pequena escola para alunos entre os cinco e os sete anos foi recentemente inaugurada e os habitantes lançaram um ambicioso projecto denominado "Wanaki" (que designa paz, serenidade) que prevê a construção de um povoado permanente e o desenvolvimento de empresas baseadas na exploração do bosque e no ecoturismo.
"Propusemos ao governo canadiano um modelo de desenvolvimento que ainda não foi posto em prática em qualquer outra parte do Canadá e que poderá servir de exemplo para tirar as comunidades autóctones da pobreza", afirma Papatie.
O Canadá considera o projecto dos habitantes da comunidade "muito promissor" mas ainda "não tomou uma decisão" sobre o seu financiamento, avaliado em 100 milhões de dólares, explica Christian Rouleau, responsável regional para os acordos com os autóctones. Para receber o financiamento os algonquinos de Kircisakik deverão aceitar o estatuto de "reserva indígena", algo pouco provável já que a comunidade considera uma questão de honra negar tal condição.

AFP


  
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Edição:

N.º 179
Ano 17, Junho 2008

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

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