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Chernobyl, o pior acidente nuclear civil da história do século XX

Vinte e seis de Abril de 1986, 01h:23:44, o combustível do reactor número 4 da central nuclear de Chernobyl (na Ucrânia) fragmenta-se: as barras de óxido de urânio aquecem e provocam uma autocombustão que rebenta a camada de concreto isolante de 2.000 toneladas do reactor.
O núcleo do reactor exposto ao ar livre começa a libertar uma nuvem de fumo e vapor de elementos radioactivos pesados, como estrôncio e o cério, que se depositaram nas imediações da central.
Os bombeiros que chegaram para conter o incêndio e impedir que se propagasse para os outros reactores, desprovidos dos equipamentos de protecção apropriados, foram as primeiras vítimas da catástrofe.
Três homens das equipes de socorro, muito expostos à radiação, morreram quase instantaneamente. Outros 28 faleceram pelas mesmas causas na semana seguinte.
Durante várias horas, através de helicópteros, foram lançadas inutilmente grandes quantidades de areia para tentar deter o desastre.
Tudo aconteceu durante um teste de segurança. Depois de uma série de erros de operação num reactor muito instável, a experiência descontrolou-se e a interrupção da actividade nuclear foi decidida de forma tardia.
A parte superior do núcleo do reactor ficou ao ar livre. Foram registados 30 focos de incêndio. Cinco mil toneladas de materiais foram despejados de helicópteros durante 15 dias para cobrir o reactor.
Cinquenta milhões de cúrios (12 bilhões de béqueres) - uma potência equivalente a 500 bombas de Hiroshima - causaram uma trágica contaminação em Belarus, no norte da Ucrânia e numa parte do território russo. As radiações disseminaram-se por toda a Europa.
Os quase 50.000 habitantes da cidade de Pripiat, situada a apenas três km da central, só ficaram a saber da importância da catástrofe no dia seguinte, quando foram evacuados.
As autoridades soviéticas esperaram dois dias antes de reconhecer, por meio de uma nota da agência TASS, que um "acidente" havia ocorrido em Chernobyl e que havia vítimas.
As autoridades suecas foram as que alertaram a comunidade internacional, no dia 28, para a seriedade do ocorrido, quando registaram um importante aumento da radioactividade no seu território.
Os satélites-espiões registaram quase imediatamente o desastre ao captar uma forte emissão de calor no sector de Chernobyl.
Mikhail Gorbachev, o número um soviético da época, foi informado no mesmo dia 26, mas o poder central decidiu manter silêncio.
Cerca de 600.000 pessoas, entre bombeiros, civis e soldados, conhecidos posteriormente como os "liquidadores", foram mobilizados para enfrentar o desastre e construir um "sarcófago" para encerrar hermeticamente o reactor danificado por 20 ou 30 anos.
O balanço exacto das vítimas nunca foi estabelecido de maneira confiável e continua a provocar debates depois de todos estes anos.
Na época foi anunciado que havia dezenas de milhares de mortos, mas um relatório da ONU, de Setembro de 2005, destaca que foram 4.000 as vítimas comprovadas ou futuras na Ucrânia, Belarus ou Rússia, por efeito de câncros.
Este relatório foi seriamente questionado por inúmeras ONGs, entre elas o Greenpeace, que calcula em 93.000 o número de mortos potenciais por causa de cancro. Segundo um estudo científico britânico publicado em Kiev, o número de mortes relacionadas com Chernobyl deve ficar entre 30.000 e 60.000. O impacto na saúde mental e psicológica das populações afectadas também é considerado algo muito sério, pois cinco milhões de pessoas continuam a viver nas zonas contaminadas. A central da tragédia foi fechada definitivamente em 2000.
A construção de um "arco" hermético, cujo custo superaria um bilião de dólares, segundo o Banco Europeu para a Construção e o Desenvolvimento, poderá solucionar a situação.
De qualquer maneira, continuam pendentes os efeitos a longo prazo sobre a saúde e o meio ambiente.
Alguns especialistas observam um aumento de certas enfermidades como o cancro da tiróide.
Também existem preocupações pela exposição crónica a leves níveis de radioactividade, principalmente dos alimentos.
"Actualmente não se vê nada, mas modificações genéticas poderão aparecer entre 20 a 50 anos", advertiu Rudolph Alexakhine, director do Instituto de Radiologia Agrícola de Moscou.

José Paulo Serralheiro
AFP


  
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Edição:

N.º 178
Ano 17, Maio 2008

Autoria:

José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.
AFP
Agence France-Presse
José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.
AFP
Agence France-Presse

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