Página  >  Edições  >  N.º 178  >  Práticas educativas de desconstrução da subalternidade nas escolas

Práticas educativas de desconstrução da subalternidade nas escolas

No cotidiano escolar é possível identificar práticas subalternizadoras entre alunos e profissionais da escola, mesmo que esta relação de subalternidade seja reproduzida inconscientemente como conseqüência do colonialismo interno. O processo de subalternização ocorre neste espaço, que se pretende educativo, contribuindo para a manutenção das relações de poder e negação de saberes, outros saberes, desqualificados, em detrimento de um saber apresentado como mais importante e universal.
Esta reflexão talvez possibilite que discutindo, melhor compreendamos como se vai dando o processo de subalternização no cotidiano da escola. A partir daí poderemos problematizar e refletir de forma a encontrar ações que desconstruam estas práticas subalternizadoras, potencializando os até então subalternos.
Os autores que se dedicam a refletir sobre os Estudos Subalternos Latinos americanos questionam a colonização epistemológica pautada no etnocentrismo, no eurocêntrismo em que vivemos. Fazem uma leitura na perspectiva dos países colonizados e contam a história, não apenas a partir do colonizador, mas também a partir das fronteiras, nos ajudando a compreender como se deu a subalternização dos saberes dos povos colonizados no processo de colonização. Estas histórias não contadas e silenciadas permitem uma nova dimensão epistemológica.
Para melhor compreender como se deu o processo de subalternização, da negação do outro, se faz necessário retornar ao período colonial, pois "com o início do colonialismo na América inicia-se não apenas a organização colonial do mundo, mas - simultaneamente - a constituição colonial dos saberes, das linguagens, da memória" (Mignolo, 1995). Neste período inicia-se a construção de um imaginário (Quijano, 1992), onde a Europa se coloca como centro geográfico de poder, tornando-se padrão de referência superior e universal.
Com a expansão ocidental a partir do século XV, vai se construindo a hegemonia do conhecimento europeu. Neste momento as demais culturas e saberes são desqualificados. O europeu se descobre "civilizado" para se distinguir dos Outros. "Os bárbaros, pois assim são vistos, necessitam daqueles que são portadores de uma cultura superior para saírem de seu primitivismo ou atraso" (Lander, 2005).
Sendo assim os conhecimentos eurocêntricos vão durante todo o processo de colonização legitimar as barbáries e atrocidades cometidas pelos colonizadores. Diversas culturas serão destruídas - um verdadeiro epistemicídio - (Santos,1999) cometido contra os saberes locais, indígenas, leigos, femininos, africanos, enfim, todos que tiveram sua cultura silenciada pela imposição de uma outra cultura, a dos dominantes: patriarcal, laica, cristã e heterossexual. O processo de colonização só foi possível porque eles foram subalternizando os povos que iam encontrando, explorando e escravizando-os.
A construção do processo de subalternização do outro, como forma de dominação, nos ajuda a compreender o porquê da desqualificação dos saberes oriundos de locais periféricos. E a partir daí, a subalternização de educadores, intelectuais, pesquisadores, enfim, todos que se atrevem a falar de lugares situados fora do eixo hegemônico.
A escola como um espaço de reprodução, como defendem alguns, ou então como um lugar de emancipação, como defendem outros, pode possibilitar práticas de desconstrução da subalternidade ou de a manutenção do status quo.
Quando o educador compreende o processo de subalternização, a colonização interna em que vivemos, ele toma consciência de sua própria subalternidade e de como reproduz a subalternização com seus alunos e colegas. A partir desta tomada de consciência é possível promover ações potencializadoras, criar possibilidades de desconstrução dessas subalternidades.
Ao discutirmos e refletirmos sobre as ações de subalternização que acontecem no cotidiano escolar, talvez este movimento permita que saberes negados, conquistem espaços, tornando o currículo mais democrático, ampliando a própria idéia de saber. Neste processo se criem espaços de diálogos interculturais, onde os alunos possam ser reconhecidos como detentores de saberes. E o professor assim, sai da situação de subalterno, buscando sua autonomia profissional.
Enfim, que esta reflexão nos ajude a repensar as nossas práticas, pois enquanto praticarmos relações subalternizadoras com nossos alunos estaremos contribuindo diretamente para o fracasso e a evasão escolar daqueles que mais necessitam da escola pública, os alunos das camadas populares.

Alana Calado Franco


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 178
Ano 17, Maio 2008

Autoria:

Alana Calado Franco
Bolsista de Iniciação Científica do CNPQ e do GRUPALFA - Alfabetização das classes populares, Rio de Janeiro.
Alana Calado Franco
Bolsista de Iniciação Científica do CNPQ e do GRUPALFA - Alfabetização das classes populares, Rio de Janeiro.

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo