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O mundo global será mais intercultural, justo e solidário?

Temos a ideia de que nunca, como hoje, foi tão fácil conhecer e interagir com outros povos. De facto, na era da Internet e do acelerado avanço das tecnologias da informação, julgamos que todo o mundo e todo o conhecimento estão ao alcance de um clique no rato do nosso computador pessoal. Aparentemente, temos oportunidade de conhecer outros povos e outras pessoas e isso contribui para uma maior interacção cultural. Seria assim, se todos os saberes estivessem vagueando nas redes de informação virtual e se todos os que querem e procuram conhecer outras culturas, tivessem acesso a um computador ou dominassem as técnicas informáticas.
Ora, não é isso o que acontece. Há milhões de seres humanos excluídos deste processo de globalização, sem possibilidade de qualquer interacção a nível global. E mesmo para aqueles que têm acesso e dominam a técnica, não é seguro que o excesso de informação se traduza num maior conhecimento cultural, não apenas porque é necessário ter adquirido competências intelectuais que lhes permitam aprender ? capacidade de contextualizar a informação, de interpretá-la, de torná-la sua ? mas, ainda, porque escapa a esta voragem informática a complexidade e a riqueza de todos os processos humanos, as dinâmicas de sobrevivência, de resistência e de desenvolvimento, que o viver local dos diferentes povos supõe e envolve.
Contudo, temos de reconhecer que, para os que têm condições efectivas de participação no mundo globalizado, há importantes oportunidades de comunicação e de interacção com culturas distantes. Tal como é justo reconhecer que há, hoje, manifestações, sobretudo desportivas  os jogos olímpicos, o campeonato do mundo de futebol, etc. ? que, por terem uma cobertura informativa alargada, criam um sentimento de pertença a uma humanidade comum, em que os valores da igualdade, da solidariedade, da tolerância e da justiça tendem a ganhar um sentido global.
Este conhecimento e esta interacção com outras culturas têm necessariamente implicações éticas e cívicas, responsabilizam-nos enquanto indivíduos e enquanto sociedade, no que respeita aos direitos humanos, à democracia, às condições de vida e de sobrevivência desses povos. Antes, poderíamos dizer que não sabíamos que se dizimavam populações inteiras, por pertencerem a determinada etnia ou grupo social; se expulsavam os índios das suas terras; se alteravam modos de vida ancestrais; se esgotavam os recursos naturais de determinada região do mundo; se escravizavam pessoas e povos inteiros; etc. Hoje, sabemos. Temos consciência da dimensão das questões, o que não pode deixar de despertar as nossas consciências, seja sobre as catástrofes naturais, seja sobre a guerra, a pobreza extrema, o subdesenvolvimento, etc.
Nesta lógica, o mundo global não será apenas mais intercultural, será igualmente mais justo e mais solidário. Mas, para que tal aconteça, é preciso levar a sério o princípio da interdependência global, todos precisamos de todos, o desenvolvimento tem a obrigação de respeitar as pessoas, as culturas de origem, os recursos naturais e o ambiente, de modo a que a globalização não sirva apenas um dos lados do mundo o dos países ricos e desenvolvidos.

Maria Rosa Afonso


  
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Edição:

N.º 177
Ano 17, Abril 2008

Autoria:

Maria Rosa Afonso
Professora
Maria Rosa Afonso
Professora

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