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Noção de Diferença Humana e Desempenho Docente

A diferença que a diferença faz

Na nossa sociedade, a noção de diferença humana - nas suas diversas expressões - tem sido historicamente conotada com estigma ou como factor facilitador de estatuto e de mobilidade social.
Foi, em algumas das suas expressões, social e politicamente disfarçada ou explicada e sancionada para sustentar relações sociais e de poder desiguais. Hoje, a par de outros termos que evocam os direitos humanos, o termo é estruturante - e permanentemente evocada - do discurso social e político das democracias neo-liberais. Nesse discurso, como em muitos dos discursos ao nível dos princípios, o termo tende a veicular uma noção vulgar e superficial de diferença. Consolida-se assim um duplo entendimento do termo: enquanto valor estimável nas sociedades multiculturais que deve ser promovido mas, ao mesmo tempo, de forte aproximação, quase equivalência e sustentação, mais ou menos subtil, a desigualdades. Como refere Giroux (1991) há nesse discurso o perigo de afirmar a diferença simplesmente como um fim em si próprio sem ter em conta como é que a diferença é formada, erradicada e ressuscitada no seio das relações de poder assimétricas.
Em grande medida, é assim que a noção de diferença permanece no sistema educativo. A educação é um dos sectores sociais onde a diferença - social, cultural, étnica, de género, física etc. - tem maior impacto e, por via dela, pode ser acentuada ou controlada a reprodução de estereótipos, de preconceitos e de discriminações. A compreensão de como aquele conceito é forjado e reflectido na estrutura social constitui um recurso cognitivo indispensável para um desempenho docente de qualidade; para conceber e promover as condições adequadas para que todos os alunos - independentemente das suas diferenças - aprendam.
O sentido de profissionalidade docente é fortemente sustentado pelas competências de gestão e organização do processo de ensino. Estas dependem dos modos como os professores reconhecem, compreendem e valorizam as diferenças entre os seus alunos no sentido de organizarem o ensino para que todos tenham oportunidade de aprender. Esta foi sempre, e cada vez mais o é, uma das condições indispensáveis para a gestão do currículo; de qualquer currículo. Não há realidades escolares sem diferenças e diversidade. Não há gestão curricular de qualidade sem referências em perspectivas sociológicas críticas acerca da diferença. São faces da mesma moeda e condição essencial para uma genuína organização e gestão do currículo visando a igualdade de oportunidades.
Muito para além de uma realidade discursiva e demográfica, cada vez mais óbvia nas sociedades e nas escolas de hoje, o conceito de diferença e de diversidade a considerar na formação e no desempenho dos professores, inclui necessariamente a sua compreensão no contexto dos processos históricos e sociais que tendem a reproduzir e eternizar desigualdades; a compreensão de como a diferença é forjada para a submissão e/ou para a dominação.

Giroux, H. (1991). Postmodernism and the discourse of educational criticism. In S. Aronowitz and H.Giroux, Postmodern Education: Politics, Cultura and Social Criticism, Minneapolis and Oxford: University of Minnesota Press.

Carlos Cardoso


  
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Edição:

N.º 177
Ano 17, Abril 2008

Autoria:

Carlos Cardoso
ESE de Lisboa
Carlos Cardoso
ESE de Lisboa

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