Página  >  Edições  >  N.º 175  >  Os prémios dos executivos dos grandes bancos evaporam com a crise nos EUA

Os prémios dos executivos dos grandes bancos evaporam com a crise nos EUA

A crise dos créditos hipotecários de alto risco (subprime), que abalou o sector bancário americano, vai reduzir a pó os prémios anuais dos gestores da banca e corretores de Wall Street, que nalguns casos chegavam a dezenas de milhões de dólares.
"Há muitas discussões sobre estes bónus neste momento na comunidade financeira e há consenso sobre o facto de que, no melhor dos casos, eles cairão muito, podendo chegar a zero nos bancos mais afectados", disse Peter Cardillo, analista da Avalon Partners. Para John Challenger, da consultoria Challenger, Gray & Christmas, "quando as acções caem todos devem compartilhar as perdas: accionistas, investidores, empregados e dirigentes". As crises do sector imobiliário e de crédito obrigaram os bancos a contabilizar mais de 100 milhar de milhões de euros de desvalorização de activos, segundo o Deutsche Bank. Com a crise longe de chegar ao fim, os bancos tentam economizar cada cêntimo para se manterem de pé. "Se um administrador da banca ou um corretor que opera num dos sete bancos de investimentos de Nova York (Goldman Sachs, Citigroup, Morgan Stanley, Merrill Lynch, Bear Stearns, Lehman Brothers e Bank of América) conseguir manter o seu emprego, já deve ficar satisfeito", comentou Cardillo, em tom de brincadeira. "Discutimos isso no Citigroup e não acredito que haja bónus este ano", afirmou um porta-voz do maior banco americano em termos de activos, cujo valor de mercado caiu 48 por cento em 2007. A situação deve ser idêntica no Merrill Lynch, outra grande vítima dos "subprimes", onde provavelmente não deve haver bónus. "O novo presidente do banco pediu uma reforma do sistema de concessão de prémios", segundo Challenger. "O nível dos bónus em Wall Street deve atingir o seu patamar mais baixo desde 2002, ano do escândalo da Enron", confirmou à AFP Jim Fuchs, porta-voz da administração fiscal do estado de Nova York. "Isto tem um impacto directo sobre a economia da cidade de Nova York", acrescentou. O maior mercado financeiro do mundo gera 52 por cento da receita da cidade de Nova York, além de 20 por cento dos impostos do estado do mesmo nome. Mas o ano não será totalmente negativo, porque os empregados dos bancos de investimentos Goldman Sachs, Lehman Brothers e Morgan Stanley, que foram menos afectados pela crise, vão receber mais de 20 mil milhões de euros em prémios de diversos tipos, um aumento de mais de 10 por cento em relação a 2006, segundo informações comunicadas pelas três instituições. Alguns corretores do sector de títulos da Goldman Sachs, que apostaram no agravamento da crise do subprime devem ser beneficiados com bónus de dezenas de milhões de dólares. O prémio do presidente do banco, Lloyd Blankfein, bateu o recorde de cerca de 50 milhões de euros em Wall Street. Em 2006, banqueiros e corretores de Wall Street receberam bónus recordes num total de cerca de 20 mil milhões de euros. Os fabulosos lucros dos gestores da banca, e também das grandes transnacionais, começam já a preocupar mesmo alguns dos maiores defensores do Neoliberalismo. É já notório que alguns destes teóricos começam a perceber que este tipo de competição, de organização das empresas, e de obtenção de lucros efémeros e imediatos, podem conduzir, ou vão inevitavelmente conduzir, a uma crise global do sistema capitalista.

AFP


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 175
Ano 17, Fevereiro 2008

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo