RELIGIÕES
Temendo o Apocalipse que crêem estar marcado para Maio de 2008, trinta seguidores de uma seita ortodoxa, entre eles quatro crianças, barricaram-se num abrigo subterrâneo, que ameaçam fazer explodir caso as autoridades tentem resgatá-los. O grupo ameaça explodir tudo com botijas de gás se as forças policiais tentarem retirá-los do abrigo, instalado num local perto da cidade de Nikolskoïe na região de Pienza (500 km a sudeste de Moscovo) onde acreditam que estão protegidos do fim do mundo. "Dizem que tudo é diabólico no mundo. Que a globalização é diabólica e prevêem a chegada do Anticristo", explicou Alexeï, um padre ortodoxo que contactou com o grupo. O local, onde estão há quase duas semanas, está coberto de neve. A temperatura oscila entre -5° e -10°. Apesar do frio, os membros da seita rejeitaram os apelos feitos por autoridades civis e religiosas, que se anunciam como representantes da "verdadeira" Igreja ortodoxa, para que deixem sair as crianças. Segundo os moradores de Nikolskoïe, o líder da seita, Piotr Kouznetsov, apelidado de Petia, é um rapaz sério, proveniente de uma família piedosa ? a mãe cantava nas cerimónias fúnebres ? e chegou a estudar engenharia. Segundo os moradores, os membros da seita viviam em paz em Nikolskoïe há vários meses, andando pela cidade vestidos com grandes roupas pretas, rejeitando o conforto moderno da electricidade e do telefone. "Algumas de suas ideias parecem-se às da anti-globalização no Ocidente. É uma rejeição à civilização", afirma Iouri, vizinho da tia de Piotr Kouznetsov, na aldeia vizinha de Bekovo. Os membros da seita são oriundos de várias regiões da Rússia, mas também da Belarus e da Ucrânia e viviam em cinco casas da cidade, reconhecíveis pelas grandes cruzes ortodoxas que afixaram no telhado e nas portas. O fenómeno das seitas cresceu na Rússia desde a queda da URSS em 1991, contribuindo para uma grande confusão ideológica e económica. Este acontecimento, amplamente divulgado pela televisão nacional russa, é "um perfeito exemplo do que pode acontecer numa sociedade onde não há educação religiosa", comentou um porta-voz da Igreja ortodoxa russa.
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