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O Sociodrama na formação de professores
Se é verdade que a Educação tem passado por amplas e rápidas alterações, também é verdade que o papel do professor se tornou muito mais complexo do que pensávamos tempos atrás, quando acreditávamos que o conhecimento se fazia por acúmulo de informações, que a melhor forma de ensinar era por transmissão e que os alunos com alguma condição de deficiência eram mais bem ensinados fora da escola regular.
Para ser professor é preciso conhecer o conteúdo a ser ensinado, saber como o aluno constrói o seu conhecimento e as perturbações que podem ocorrer durante o seu desenvolvimento, mas é preciso também saber manejar os grupos, lidar com as emoções e sentimentos próprios e dos alunos, saber interagir com diferentes culturas, diferentes valores e diferentes pessoas. Formar um professor implica quase que formar uma nova pessoa, uma vez que as competências pessoais assumem o mesmo patamar que as competências profissionais. Neste sentido, o Sociodrama é uma metodologia de imensa utilidade e que deveria ser comum na formação de professores. É uma forte alternativa aos métodos unicamente expositivos de ensino e permite que os futuros professores analisem criticamente o seu papel profissional e o construam a partir de conclusões que eles próprios tiram, e não somente de orientações externas que recebem dos seus formadores.
O Sociodrama, criado por J.L.Moreno em meados do século passado, é uma metodologia que utiliza técnicas dramáticas (sem ensaio prévio) para abordar temas do interesse de um grupo (no Brasil, chamado de "Psicodrama Sócio-educativo" ou, anteriormente, de "Psicodrama Pedagógico" ). O Sociodrama pode ser utilizado onde quer que esteja presente um grupo que queira reflectir sobre algum assunto, investigar algum aspecto da realidade ou desenvolver papéis e trabalhar relações. O seu objectivo não é a produção dramática (porque não é um teatro), mas é a reflexão e as lições que se pode aprender a partir da representação.
Há vários exemplos de como o Sociodrama pode ser utilizado num curso de formação de professores. Em supervisão de estágio, o aluno não "conta" mas "mostra" as situações vividas ou observadas. Com isso, outros conteúdos para além da informação verbal aparecem na cena e permitem ao formador analisar, com maior amplitude e profundidade, o contexto e a prática do futuro professor. Ao tomar o papel de uma criança com NEE, o aluno pode compreender os valores que estão por detrás das atitudes das pessoas e/ou criar estratégias diferenciadas de ensino, promotoras de inclusão. Assumir uma turma pela primeira vez, numa dramatização, permite ensaiar de várias formas um papel que será desempenhado na vida real. Ao dramatizar o conceito de "segregação" ou de "aprendizagem", por exemplo, os alunos podem trazer à tona os conceitos congruentes e incongruentes com estes, ou as situações que fazem e que não fazem parte destes contextos. Num Sociodrama, o aluno pode experimentar as cenas mais temidas pelos professores, ou investigar os erros que os educadores mais cometem, com a vantagem de estarem num ambiente protegido. Além disso, se há um lugar onde o futuro professor possa errar sem consequências para os seus alunos, é em situação simulada, diante do seu formador.
Em Portugal, o Sociodrama já não é desconhecido e é notável o aumento da sua utilização em vários âmbitos. Em Outubro passado, Carcavelos foi palco do 1º Congresso Internacional de Sociodrama (HTTP://congressosociodrama.blogspot.com), contando com uma significativa participação do público português. Para mim, sociodramatista brasileira vivendo em Portugal, tem sido uma satisfação testemunhar a disseminação desta metodologia e, principalmente, presenciar professores a descobrir mais uma forma activa (e efectiva) de ensinar.

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 173
Ano 16, Dezembro 2007

Autoria:

Luzia Lima-Rodrigues
Centro Unisal, Brasil. Instituto Piaget, Portugal
Luzia Lima-Rodrigues
Centro Unisal, Brasil. Instituto Piaget, Portugal

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