A Propósito Do Covarde Infante Henrique
Em teimosa e estúpida expedição militar-colonial a Tanger, a elite aristocrática comandada pelo cavaleiroso infante Henrique é repelida pelos árabes que, na fuga, permite-se um ato de alta traição à ética militar: faz-se substituir pelo irmão mais novo, o infante Fernando, que fica como refém das tropas vitoriosas e é encarcerado em Fez. Não ouve as palavras sensatas do irmão Pedro, mais tarde chamado de "o Infante das 7 partidas", contrário às expedições feudais e adepto ativo das expedições científicas e de navegação; não ouve o clamor do Povo português, que paga pesados impostos para suportar as tropas... É apenas um aliado estratégico dos interesses feudais da Casa de Bragança [fundada em 1401 por anti-portugueses e fujões], que o rei Duarte I tolera; prefere as cruzadas fundiárias e a colonização de outros povos e recusa o espírito democrático de empreendedor de Pedro, que já dera início ao ciclo das navegações a partir do seu castelo em Montemor-o-Velho, e às Ordenações Afonsinas, pois, o rei Afonso V é uma criança e Pedro é o regente, após conhecer o mundo e ter adquirido conhecimentos sobre importantes dados navais e comprado o Mapa de Fra Mauro para o Estado português ? o mapa que contém indicações das viagens marítimas da China [1421-1427] e que os navegadores portugueses vão utilizar adequadamente nas suas expedições a partir do rei João II. Entretanto, o tempo passa e Henrique não move um dedo para libertar o irmão Fernando, administrador da Casa de Aviz; primeiro, porque os feudais bragantinos não querem que a Ordem de Cristo, da qual ele é o administrador, entregue a praça de Ceuta, segundo, porque o Vaticano ameaça excomungar a aristocracia portuguesa se ceder aos desejos dos árabes. O infante adoece na prisão e morre no verão de 1443, vítima sobretudo da ação criminosamente política do irmão Henrique. É o mesmo Henrique que, aliado às forças retrógradas, tenta "dar a volta por cima" e inicia uma cruzada evangélica nomeando o irmão assassinado como "Fernando ? o infante santo". Entretanto, ao longo dos anos, e depois com Gil Vicente, o Povo não aceita o embuste. Por outro lado, Henrique tem outra cruzada: resistir e obstruir o trabalho progressista do irmão e regente Pedro... As casas de Bragança e da Ordem de Cristo unem-se para destruir o Duque de Coimbra e Regente que impõe aos feudais regras de conduta. Coisa inimaginável, mas coisa certa. Tão certa que, mais tarde, o seu neto e rei João II vem a retomar essa política pública de Ordem republicana. 20 de Maio de 1449. Sob neutralidade ideologicamente ativa, Henrique assiste ao assassinato do irmão Pedro, em Alfarrobeira, e acrescenta mais uma morte no punho da sua espada. Poderei ser rei um dia?, questiona-se. Não. Será somente um assassino político e um usurpador da obra alheia... Todos os esforços e feitos de Pedro são confiscados pelos feudais cavaleirosos, e as navegações científicas e comerciais param por muitos anos. A história é feita de documentos. Tenta-se, em Portugal e, principalmente, no meio acadêmico, abafar a História com ciclos de leitura e celebrações "henriquinas" para continuar a dar a Henrique o que ele não fez, tentativa vã de branquear os fatos. Diz-se, e bem, que a História deve ser lida no contexto da época, político e social e religioso, mas a matança politicamente calculada de dois irmãos por um terceiro, só tem uma leitura histórica: covardia! Talvez por isso, Henrique morre em Sagres, isolado, exatamente onde os acadêmicos da anti-História dizem que ele estabeleceu uma "escola náutica"... Os pseudo-historiadores deveriam ter, pelo menos, respeito pelo Povo das regiões coimbrãs (de Montemor-o-Velho a Aveiro e Buarcos) que estiveram ao lado de Pedro, até na morte politicamente anunciada. Mas, na verdade, o que interessa para os acadêmicos é ter uma figura, um alvo, que não lhes cause desgaste psicológico: Henrique é a figura preferida. Negra e assombrada, leia-se Fernando Pessoa, a figura henriquina exibe o todo criminoso que lhe é peculiar. Enquanto o irmão Pedro é largado aos cães no campo de batalha, Henrique abocanha o espólio das expedições marítimas através da Ordem de Cristo, a par da destruição da Casa de Coimbra e do isolamento da Ordem de Santiago sob o aplauso do Vaticano. Ninguém quer ouvir o eco das sensatas palavras de Pedro, e Portugal continua mergulhado na odisséia da mediocridade política. Prefere-se celebrar o criminoso Henrique a reiniciar o processo modernizador do Diálogo e da Integração Cultural portuguesa, como pleiteia o filósofo Manuel Reis. A propósito: leia-se a historiografia de Alfredo Pinheiro Marques sobre Pedro e João II. 570 anos depois do cativeiro de Fernando, talvez uma reflexão histórica diferente dos sujos manuais acadêmicos seja uma prudente ação pedagógica!
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