A criatividade enquanto capacidade do homem pensar sobre si próprio sempre existiu, embora o seu estudo ordenado tenha começado à pouco mais de um século. Muitas das concepções tomadas hoje ainda representam ideias antigas e míticas dificultando o seu desenvolvimento. Uma delas é que a criatividade é um dom divino e o acto criativo um repente de inspiração; donde não faria sentido esforçar-se para pensar criativamente e desenvolvê-la, já que se trataria de um desígnio. No entanto, a actualidade exige que os indivíduos reflictam, procurando novas soluções e ideias. Os velhos procedimentos já não atendem ás cambiantes necessidades modernas. Daí o imperativo do pensamento flexível e inovador, capaz de estabelecer soluções. E ainda que não haja consenso teórico, já se pode falar de um quadro que permite conhecê-la e estimulá-la melhor. Trata-se de um processo multifacetado, de nível distinto e ligado à inteligência; que envolve definição e redefinição de problemas e combinação de conhecimento anterior numa nova forma de aplicação. Ela depende da motivação para a tarefa, capacidade e conhecimento num domínio, competências cognitivas e de um trabalho concentrado e enérgico. Para ser criativo, o aluno deve acreditar em si mesmo, confiar nas suas capacidades e sentir desejo e prazer em realizar os trabalho de forma persistente, elaborada e fecunda. A reunião de competências cognitivas, como a flexibilidade, fluência, imaginação e expressividade, é o alicerce para o pensamento criativo. A elaboração da ideia não surge do nada, mas da reacomodação de imagens anteriores. Só podemos ser realmente criativos se possuirmos conhecimento anterior. Ela requer tempo, esforço e dedicação. Até que o produto final seja apresentado; muitas horas terão sido utilizadas e ideias terão sido seleccionadas, confrontadas e reflectidas. Assim, a criatividade é uma competência do aluno auto-regulado, por este ser capaz de coordenar saberes que lhe permitam atingir as suas aprendizagens. O acto criativo implica que se saiba o que vai ser criado e como, que se conjugue dificuldades e capacidades, elimine distracções, que o medo do fracasso seja negado e o tempo seja utilizado estrategicamente. A intervenção pode debruçar-se sobre várias áreas. Importa porém, estabelecer uma ordem privilegiando saberes para subsidiar as operações. A escolha lógica parece a que se centra numa delas, considerando a sua natureza multidimensional e interdisciplinar. Pode-se intervir sobre pessoas, estudando os sinais da personalidade que caracterizam as mais criativas e estimulando nas outras os mesmos traços. Pode-se intervir sobre produtos, avaliando-os segundo muitos critérios, entre os quais a originalidade; embora qualquer julgamento seja relativo, condicionado histórica, cultural e socialmente e ainda que, o próprio produto seja diversificado; como um texto científico, a resolução de um problema, uma pintura ou uma ideia. Podemos além disso, intervir sobre os processos através dos quais as pessoas demonstram a criatividade; procurando descobrir um modelo, através do confronto e comparação de estratégias. A escola pode estimular a criatividade se promover uma aprendizagem construtiva, cooperativa e significativa; se utilizar critérios que valorizem a expressividade e originalidade; se recorrer ao conhecimento dos diversos domínios; se utilizar os processos de memorização como meio e não como fim; se valorizar a compreensão; se aplicar e combinar métodos criativos. Para concluir, se promover uma educação baseada na conjugação e aperfeiçoamento das motivações e nas potencialidades dos contextos. Finalmente, se estimular a auto-regulação da aprendizagem e o ensino de capacidades e habilidades para aprender ao longo da vida.
Nota bibliográfica:
- Bahia, S; Nogueira, S. (2005) "Entre a teoria e a prática da criatividade" in Miranda, G;
- Bahia, S. (org). Psicologia da Educação: Temas de desenvolvimento, aprendizagem e ensino. Lisboa: Relógio D'Água, (332-363).
|