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Governo de George W. Bush limita avanço científico em nome da ideologia
O governo de George W. Bush parece decidido, desde a sua chegada ao poder em 2001, a favorecer as suas convicções político-religiosas em detrimento da ciência, como demonstram as acusações de um ex-responsável do sistema de saúde dos Estados Unidos, Richard Carmona, que afirmou recentemente perante uma comissão do Congresso norte-americano que a Casa Branca não o autorizava a falar publicamente ou a divulgar relatórios sobre células estaminais, a pílula do dia seguinte ou educação sexual.
Bush proibiu, em 2001, o financiamento público da investigação sobre as células provenientes de embriões humanos com o argumento de que isso equivaleria a destruir vidas, ignorando os conselhos científicos sobre o tema. "Eu estava estupefacto com as manipulações políticas e as acções partidárias das quais era testemunha e questionei-me se isso seria uma excepção ou a norma", explicou Carmona aos membros da comissão.
"Toda a informação que não corresponde às prioridades desta administração é ignorada", refere Michael Alpern, da "Union of Concerned Scientists", uma influente associação de investigadores dos Estados Unidos. "Qualquer cientista dirá que este governo é o pior" na história recente do país pela sua ingerência e censura da ciência, diz Alpern.
A atitude da Casa Branca em fomentar o movimento neocriacionista, que recusa a teoria da evolução, fundamento da biologia moderna, ou em negar o factor humano no aquecimento global, levou esta associação a organizar uma petição em 2004. O documento foi subscrito por mais de 12 mil investigadores, incluindo 50 prémios Nobel nas mais variadas áreas do conhecimento, assim como cada um dos principais ex-conselheiros científicos dos presidentes norte-americanos, republicanos e democratas, desde Dwight Eisenhower, na década de 50. "Devem estabelecer-se reformas que permitam separar a ciência da política", referia esta petição, que considera "inaceitável toda e qualquer forma de ingerência política".
A Casa Branca, que não respondeu às acusações de Carmona, parece não comover-se com esta forte mobilização. Em 2006, o principal climatólogo da NASA, James Hansen, acusou a administração Bush, numa entrevista ao New York Times, de exercer pressões no sentido de censurar as suas investigações sobre as alterações climáticas, em particular durante a campanha presidencial de 2004. Os seus comentários foram confirmados por outros funcionários da NASA e levou os responsáveis republicanos e democratas do Congresso a exigir que a agência garantisse "uma maior transparência científica".
No seu último livro, intitulado "The Assault of Reason" (que se poderá traduzir por "Ataque ao Racionalismo), o ex-vice presidente Al Gore conta que George Deutsh, um funcionário do serviço de imprensa da NASA - próximo do governo de Bush e sem qualquer tipo de formação científica - redigiu uma nota de serviço dirigida aos cientistas da agência espacial onde afirmava que o Big Bang "não era um facto provado mas apenas uma opinião".

  
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Edição:

N.º 170
Ano 16, Agosto/Setembro 2007

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

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