Discute-se há algum tempo a exclusão digital como premente e actual questão social focalizada na influência que as tecnologias de informação comunicação e conhecimento têm na mobilidade social e na marginalização ou no desenvolvimento e na desigualdade. Investigadores e estudiosos da Internet como DiMaggio e Hargitai propõem que, na era da grande massificação da Internet e das tecnologias digitais, a focalização desta questão se mova da exclusão digital para a desigualdade digital. A desigualmente para estes autores abrange cinco variáveis principais: a) meios técnicos ? desigualdades relacionada com o acesso à banda larga, b) autonomia ? conexão no trabalho ou em casa, monitorizado ou não, tempo limitado ou livre, etc. c) conhecimento, habilidade e competências - como pesquisar, baixar e utilizar informação ou a utilização dos artefactos digitais actualmente disponíveis, d) apoio social ? orientação ou aconselhamento por usuários mais experientes, e) intenção ? razões da utilização da Internet e das tecnologias digitais: aumento da produtividade, melhoria do capital social, consumo, entretenimento, aprendizagem, etc.. Warschauer entende que estas variáveis devem ser ampliadas às questões políticas e às questões locais. Promover a inclusão digital ou a igualdade de acesso não é uma questão apolítica centrada nas estatísticas e em números mas nas pessoas e nos interesses locais, na resolução de problemas das pessoas e do local (práticas enraizadas no indivíduo e no local). São pois importantes e decisivos, o contexto social, a intenção social e a organização social nas iniciativas de fornecimento e obtenção do acesso às tecnologias de informação comunicação e conhecimento. O problema da exclusão digital ou mesmo de desigualdade digital parece ser o da separação entre o tecnológico e o social ou da mera relação de causalidade, isto é, a tecnologia e social são entendidos como entidades separadas distintas ou ligados apenas pela relação causa efeito. Acredita-se que os programas, idealizados para o desenvolvimento tecnológico, melhorarão ou resolverão necessariamente os problemas sociais. Esta separação é vista ora de uma forma determinista ? a tecnologia vista como algo que existe à margem da sociedade e que exerce um impacto sobre essa sociedade, ora de uma forma neutralista ou instrumental ? a tecnologia é vista como neutra, isto é, privada de qualquer conteúdo ou valor específico, indiferente às finalidades para as quais venha a ser empregue. As tecnologias digitais não geram automaticamente a mudança, como o computador na aula não gera por si só a aprendizagem. Há um complexo e mútuo relacionamento entre as tecnologias, os contextos sociais, as estruturas sociais. As tecnologias transportam também consigo os valores de uma época ou da sua própria história. Os computadores pessoais e a Internet não podem ser entendívéis separados do contexto social norte-americano e as suas ideias reflectem os valores e as perspectivas dos engenheiros norte-americanos que trabalharam neles; assim como a interface do computador, baseado na metáfora do escritório (não da cozinha, da oficina, do cais, da pista de dança) aponta para utilizadores com determinados tipos de experiências prévias. O domínio tecnológico e social são inseparáveis e estão estritamente imbricados e entrelaçados um no outro. Constituem-se um ao outro em contextos sociais específicos e nas vidas dos indivíduos, das sociedades das organizações. O desafio que se nos coloca não parece pois ser o de superar a exclusão digital ou a desigualdade de acesso às tecnologias digitais consideradas em (ou por) si próprias mas a expansão do acesso e a utilização das tecnologias digitais para promover a inclusão social.
Nota: Este tema terá uma segunda parte, nesta mesma rubrica, no próximo numero de «a Página».
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