Página  >  Edições  >  N.º 169  >  Blair deixou um país mais rico, mas com mais pobres

Blair deixou um país mais rico, mas com mais pobres
Crescimento forte, desemprego fraco é o balanço económico do governo Tony Blair, que deixou o poder no dia 27 de Junho depois de 10 anos em Downing Street. Blair avançou na política armado de uma ideia simples (e simplista para os seus críticos): a modernização. Dez anos depois, os especialistas não deixam de lhe apontar desequilíbrios e disparidades que vieram com a sua política.
O produto interno bruto do Reino Unido avançou 2,8 por cento ao ano em média desde 1997, contra 2,2% na França e 1,5% na Alemanha. Ao mesmo tempo, a taxa de desemprego caiu a 5,4%, contra 8,8% na França, por exemplo, segundo dados mais recentes do Eurostat. 
O dado britânico exclui, no entanto, dois milhões de pessoas declaradas inaptas para o trabalho, consideradas por muitos como desempregados camuflados, que o governo tenta recolocar no caminho do emprego desde 2005.
Outro ponto positivo é o controle da inflação, da libra e das taxas de juros, cuja chave foi, na opinião da maioria, a independência dada ao Banco da Inglaterra em 1997. Estes resultados económicos são, no entanto, atribuídos ao ministro das Finanças Gordon Brown.
O período também foi marcado por investimentos nos transportes, em educação e saúde, após a redução drástica destas despesas sob os governos conservadores.
Os Trabalhistas gabam-se de ter diminuído as listas de espera nos hospitais, de ter modernizado as escolas e de terem uma rede ferroviária mais segura. Porém, o julgamento dos britânicos é muito mais modesto.
Segundo uma sondagem do «Observer», a maioria dos britânicos tem uma opinião negativa sobre as melhorias da saúde e dos transportes, 61 por cento não acham que é melhor viver na Grã-Bretanha de 2007 do que na de 1997. Em termos de educação e formação, o recente relatório «Leitch» fez soar o alarme contra a falta de qualificação da mão-de-obra. De 30 milhões de activos, cinco milhões não sabem ler nem escrever, e 17 milhões não sabem contar em condições.
Os anos Blair viram também uma explosão do endividamento das famílias. "Os particulares, e o Estado, endividaram-se muito para sustentar o crescimento. A verdade é que vivemos acima das nossas possibilidades", afirmou Peter Spencer.
Outros economistas sublinham os desequilíbrios do crescimento. "A globalização edificou uma economia de serviços, principalmente financeiros, que ocorreu em detrimento da indústria e do investimento em investigação e desenvolvimento", dizem.
A City de Londres enriqueceu-se consideravelmente: os bónus concedidos aos "golden boys" foram multiplicados por seis em dez anos. Ao mesmo tempo, um milhão e trezentas mil pessoas perderam o seu emprego na indústria. Esta evolução acentuou as desigualdades económicas, segundo o New Policy Institute, que no seu último relatório sobre a pobreza destacou que "três quartos da riqueza gerada na última década ficaram no bolso das famílias mais abastadas".
De uma certa forma, o Reino Unido é um país mais rico do que há dez anos, mas não mais feliz. Houve pouco avanço social e aumentaram as desigualdades sociais. É a herança de Blair.

  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 169
Ano 16, Julho 2007

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo