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Quando um jornalista fica sem palavras
Marina Subirats Martori, catedrática do Instituto de Ciências da Educação, de Barcelona, foi, de todas as pessoas com quem me cruzei como jornalista, muito provavelmente aquela pela qual senti maior empatia. Entrevistei-a no Porto, em Julho de 1997, na Faculdade de Psicologia e das Ciências da Educação da Universidade do Porto, onde a doutora Marina participou num colóquio subordinado ao tema "Outros Sentidos para Novas Cidadanias".
O nosso encontro/entrevista foi atípico e começou por uma troca de impressões sobre a modernidade de Aristófanes, por exemplo na sátira Lysístrata, uma peça de teatro escrita alguns séculos antes de Cristo que conta a história da própria Lysístrata, a líder feminista que encabeçou uma greve de abstinência sexual para forçar os homens a fazerem a paz na Guerra do Peloponeso .
Como então confessei no "Jornal de Notícias", no que saiu em letra de forma do encontro com Marina Subirats Martori, às vezes, a gente, de tanto querer escrever o melhor dos textos para um serviço que nos tocou, acaba por nada escrever, como se, subitamente, ficasse sob os efeitos de uma forte e profunda afasia, isto é, sem palavras. Com todo o respeito pela doutora Marina, essa entrevista foi qualquer coisa assim como uma atracção química que não se explica mas que se julga reconhecer.
Quando entrevistei, também para o Jornal de Notícias, o Dr. Álvaro Cunhal, então secretário-geral do Partido Comunista Português, senti-me um pouco atrapalhado, mas foi um sentimento diferente. Muito parecido ao de um aluno que ao entrar para um exame teme não estar à altura das perguntas. Lembro-me de ter confessado esta fraqueza ao próprio Dr. Álvaro Cunhal e, principalmente, da resposta dele: "não sei porque se sente assim, eu é que vou ter de responder às suas perguntas".
Tenho por certo que a mediação jornalística acaba por ser sempre mais conseguida quando se estabelece, directa ou indirectamente, qualquer laço de afectividade entre o jornalista e alguém com quem ele se cruza, neste ou naquele trabalho, mesmo que essa magia seja apenas reconhecível no universo que o jornalista, por um motivo estranho, é levado a recriar.

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 167
Ano 16, Maio 2007

Autoria:

Júlio Roldão
Jornalista do Jornal de Notícias
Júlio Roldão
Jornalista do Jornal de Notícias

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