Choque tecnológico ou telemobilístico?
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Um rapaz caminhava de um lado para o outro na rua. Aspecto de quem estava mesmo cansado. Não tanto de andar mas de ouvir o interlocutor. Olhos por tudo quanto era distracção ? pessoas, carros, graffitis ?, auricular na orelha e telemóvel na mão. ? Olha, já nem tenho vontade de ir aí! Do outro lado adivinha-se alguém bastante insistente. Mas o rapaz não recua. ? Olha, já nem vou ter vontade de ir aí amanhã! A impaciência cresce e a mão que segura o telemóvel já sobe e desce num gesto ameaçador. ? Olha, já nem vou aí nunca mais! Adeus! E fecha a tampa ao telemóvel. Uma rapariga tira da carteira o telemóvel novo para o mostrar à amiga. Despe-o da bolsinha com desenhos das «Powerpuff Girls» e começa a chorar. Confessa à amiga que o comprou apenas para poder mudar de rede e de número. Diz-lhe que tem de ser. Que não pode continuar à espera que o ex-namorado lhe ligue a dizer que a ama. Prefere saber que ele não lhe vai ligar porque simplesmente ela não lhe deu o novo número. Mas ainda assim não se dá por confortada e não pára a choradeira. A amiga consola-a: ? Liga-lhe só mais uma vez, diz-lhe o que verdadeiramente sentes! A rapariga não consegue conter as lágrimas e continua a explicar o drama do fim do namoro que decididamente não queria acabar. ? Já lhe disse!! Estou farta de passar horas e horas com ele ao telemóvel!!! Depois relata à amiga que ainda na noite anterior saíra de casa às 4 da manhã para telefonar ao ex-namorado de uma cabine. Isto depois de ter ficado sem saldo no telemóvel "velho". E sem saldo no telemóvel "novo", de onde ainda lhe telefonara mas com o número não identificado no destinatário. Cheia de boas intenções a amiga argumenta uma solução mais económica: ? Manda-lhe uma sms! A rapariga exalta-se num misto de revolta e vontade de partir violentamente o telemóvel no chão. ? Já mandei milhentas sms, esgotei os kolmis e ele nada, simplesmente não me liga! Nem me atende! Um rapaz chega a casa. Tem o telemóvel desligado há três dias. Desligou-o depois de uma sms enviada à namorada para acabar o namoro sem grandes discussões. A mensagem fora vaga: ? Sorry, período de luto! N sei qto tempo vai durar. Depois saíra da cidade rumo a casa de um amigo que morava na aldeia, deixando o telemóvel pousado na mesinha de cabeceira. De volta, fitava-o ali quieto, ainda onde o deixara. Crescia-lhe uma ansiedade no peito em relação ao que fazer. Se ligasse o telemóvel sabia que teria de ler sms insultuosas ou mensagens de «voice mail» histéricas da namorada aturdida por tal comportamento. Se não ligasse nunca saberia qual a sua reacção, algo que no fundo ele queria saber... Duas horas passaram. Depois passaram mais quatro. A coragem surgiria ao fim da tarde quando finalmente marcou o PIN. Esperou pelo sinal de sms. Meia hora. Uma hora. Nada. Então ligou à namorada. O telemóvel dela estava desligado.
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Ficha do Artigo
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Edição:
Ano 16, Abril 2007
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Autoria:
Jornalista, A Página da Educação
Jornalista, A Página da Educação
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