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Eutanásia (re)abre debate ético e político na Europa
A morte, em Dezembro último, do italiano Piergiorgio Welby, de 60 anos, que havia pedido à justiça que lhe fosse retirado o respirador artificial do qual dependia desde há dez anos, abriu um controverso debate ético e político sobre a eutanásia em Itália e na Europa, onde um crescente número de pessoas pede que se regulamente o direito a morrer com dignidade.
Em Itália, onde esta ideia não é bem aceite em numerosos sectores da sociedade, sobretudo entre os católicos, o caso provocou reacções adversas entre os que defendem e os que se posicionam contra esta prática.
"A eutanásia não é uma questão de esquerda ou de direita, e não pode ser uma decisão afastada de critérios médicos, jurídicos e políticos", escreveu em editorial o oncologista e ex-ministro da Saúde Umberto Veronesi. "É indispensável que a sociedade se pronuncie sobre esta matéria e regulamente democraticamente o princípio da eutanásia, independentemente das ideologias e das emoções, medos e fantasmas que suscitam sempre estes casos trágicos", pediu Veronesi.
O Vaticano, que proíbe a eutanásia mas já admitiu não se opor à interrupção de tratamentos desproporcionados que prolonguem a vida, manifestou uma posição um tanto ou quanto ambígua. Elio Sgreccia, da Academia Pontifícia para a Vida, disse que "nunca se irá saber se Welby morreu por recusava um tratamento insuportável ou para desencadear uma batalha política".
Em França ? onde também recentemente o caso de Vincent Humbert, um jovem paralisado por um acidente que se encontra cego, surdo e mudo, suscitou o debate nacional ?, os doentes terminais têm direito, graças a uma lei adoptada no ano passado, a recusar os tratamentos médicos e a redigir um testamento biológico.
O testamento ou declaração antecipada de tratamento prevê que a pessoa, na plena capacidade das suas faculdades mentais, indique as opções terapêuticas que considerar adequadas no caso de ficar em estado vegetativo ou comatoso, podendo recusar, por exemplo, os tratamentos extremos como o prolongamento da vida através de meios artificiais. Um método semelhante foi introduzido na Dinamarca e na Finlândia, países que contam com vários modelos de testamento médico.
Em Espanha, o caso de Ramón Sampedro, narrado no filme "Mar Adentro", de Alejandro Amenabar, obrigou a retomar o debate sobre a eutanásia, mas o governo de Rodríguez Zapatero nunca se chegou a pronunciar sobre o tema.
A eutanásia é considerada na maioria dos países do mundo e da Europa como um homicídio. As únicas duas excepções são a Holanda e a Bélgica. Em Abril de 2002, a Holanda rompia o tabu e abria uma porta para garantir a prática da morte assistida, legalizando a eutanásia sob condições muito rigorosas. A Bélgica autorizou esta prática poucos meses depois para pessoas que sofrem de doenças incuráveis e que tenham feito esse pedido quando gozavam plenamente das suas faculdades mentais. Desde então, segundo dados oficiais, 1033 holandeses e 3600 belgas decidiram pôr termo à vida.

  
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Edição:

N.º 163
Ano 16, Janeiro 2007

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

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