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"Morangos com açúcar", "Floribella"... e agora professor?

Os adeptos destas séries garantem que se trata de séries de referência para crianças e jovens (e não só...). Os mais críticos indignam-se face ao que consideram ser apelos directos ao consumo ? as personagens figuram em posters, em capas de inúmeras revistas (não apenas as dirigidas ao público juvenil), as bandas de música que acompanham o enredo esgotam concertos, os respectivos CD?s e os artigos de merchandising são verdadeiros fenómenos de vendas. No entanto, mais do que tomar posições, necessariamente mais ou menos valorativas, importa-nos, enquanto educadores, aproveitar o potencial educativo de ambas.
De facto, ambas as séries configuram uma espécie de projecto educativo e socializador potencial, que se propõe tematizar, exprimir e promover determinados valores e estilos de vida. Assim, importa aproveitar as oportunidades proporcionadas por determinados conteúdos para dialogar com as crianças e jovens, promovendo um trabalho de análise e ajudando-as a construir um olhar crítico sobre a série.
A escola pode tornar a televisão educativa. No caso de séries como os Morangos com Açúcar ou a Floribella, uma das actividades que pode ser desenvolvida em sala de aula, é a análise de trechos da série considerando as linguagens utilizadas: verbal, visual, gestual, musical... Também se podem trabalhar os diálogos entre as personagens: o vocabulário, o ritmo, a pronúncia, os diferentes tipos de discurso (mais coloquial ou mais formal). As características físicas e psicológicas das personagens podem ser um outro tema de trabalho. Estas podem servir de pretexto para abordar as questões dos consumos e dos estilos de vida: as roupas que usam, que resultam da associação / patrocínio de determinadas marcas ou de criações específicas; podem ainda ajudar a desmontar os estereótipos do ?bem? e do ?mal? geralmente associados a traços psicológicos, de comportamento, e até físicos, bem determinados nalgumas personagens. Os diferentes papéis sociais representados: de estudante, de criança, de jovem, de filho, de pai, de mãe, de irmão, de professor, de amigo, de namorado... Os diversos espaços e contextos sociais de interacção: escola, família, lazer. Os temas abordados, os problemas ou conflitos que vão surgindo e a forma como são apresentados e resolvidos.
Ainda outra actividade possível de se promover passa pela identificação de semelhanças e diferenças entre ficção, a realidade representada na(s) série(s), e a realidade vivenciada pelos alunos, nos seus vários níveis. A primeira, necessariamente simples, simplificada, e a segunda necessariamente complexa. Permitindo, assim, estimular a capacidade crítica, reflexiva e de diferenciação entre o mundo social representado e o mundo social em que o jovem se encontra envolvido através das suas experiências quotidianas.
Concluindo, importa notar que estas actividades sugeridas não têm como objectivo incentivar o consumo televisivo das crianças ou jovens. Ou o de preencher mais um tempo vazio ou furo inesperado. Trata-se, antes,  de uma via alternativa para desenvolver atitudes e comportamentos críticos. Sabendo que estas séries são uma das instâncias de produção de sentido das crianças e jovens, importa constituí-las, paralelamente, em objectos de reflexão crítica permanente. E o espírito crítico só é construído a partir da capacidade de contestar, de diferenciar e de associar novas mensagens, novos conteúdos e novas ideias aos referenciais previamente estruturados.

Bibliografia

  • Pereira, Sara (2006), ?Os «Morangos com Açúcar» têm lugar na escola?? em A página da educação, ano 15, nº153, Fevereiro, p.2.
  • Pinto, Manuel (2000), A televisão no quotidiano das crianças, Porto, Edições Afrontamento.
  • Pinto, Manuel (2002), Televisão, família e escola, Lisboa, Presença.
  • Menezes, Inês (2005), ?Dossier «Morangos»? em Xis Público, 24 Setembro, pp. 11 - 18.

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 161
Ano 15, Novembro 2006

Autoria:

Susana Henriques
Instituto Politécnico de Leiria (ESEL e ESTG). Investigadora Associada CIES / ISCTE
Susana Henriques
Instituto Politécnico de Leiria (ESEL e ESTG). Investigadora Associada CIES / ISCTE

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