Página  >  Edições  >  N.º 160  >  Um serviço educativo ?incontornável?

Um serviço educativo ?incontornável?

MUSEU DE SERRALVES

Estabelecer relações com os diferentes públicos é uma responsabilidade da qual depende o dinamismo de um museu. Neste cenário, a existência de um serviço educativo torna-se ?incontornável?. Quem o diz é Sofia Victorino (1),  coordenadora do Serviço Educativo do Museu de Serralves ? Museu de Arte Contemporânea. O público escolar recebe particular atenção. Do pré-escolar ao ensino secundário, oficinas temáticas, workshops, ?aulas? e uma série de actividades compõem o programa educativo anual.

De que se ocupa o Serviço Educativo do Museu de Serralves?

Organiza as actividades em torno das exposições e do que acontece na Fundação de Serralves para os diferentes públicos. Trabalhamos não só com a comunidade escolar, mas também organizamos um conjunto de actividades para o público em geral. A nossa programação tem como objectivo tornar mais acessível a aproximação à Arte Contemporânea. A estrutura do Serviço Educativo está intimamente ligada às especificidades deste espaço. Isto significa que trabalhamos em três grandes eixos temáticos: a arte, a arquitectura e o ambiente.

Como se processa o trabalho nesses três eixos?

São temáticas trabalhadas de forma transversal. O museu é muito marcado pela arquitectura do próprio espaço projectado pelo arquitecto Siza Vieira e pelas relações que estabelece com a Casa de Serralves. Por isso, temos alguns programas que se dedicam a sublinhar essas relações e a propor pistas de observação e interpretação sobre a natureza dos espaços arquitectónicos e do jardim envolvente. A temática do ambiente é trabalhada sob o prisma da educação para a cidadania e além disso dispomos de uma equipa especializada que desenvolve programas de educação ambiental. Por fim, a arte contemporânea: sabemos que para o público em geral causa alguma perplexidade e curiosidade...

Desconfiança também...

Sim, e uma certa resistência que, curiosamente, surge muito mais da parte dos adultos do que das crianças. (risos) Mas o nosso objectivo é o de criar programas que possibilitem uma experiência mais interessante do espaço, das exposições e também um enquadramento e um entendimento da arte produzida desde os anos 60 até à actualidade. Quando o museu inaugurou em 1999, os seus directores consideraram que os anos 60 e 70 constituíam o marco fundamental para o entendimento da arte contemporânea e é esse o período que marca as exposições que aqui acontecem. Isto vem a propósito do trabalho do serviço educativo, pois há aqui uma coisa determinante que é o facto de não dispormos de uma colecção apresentada em permanência, como outros museus.

Em que aspectos isso condiciona o serviço educativo?

Exige uma grande flexibilidade e dinamismo, na medida em que as exposições mudam de três em três meses. A nossa equipa tem de estar em permanente trabalho de estudo e actualização. Ainda que alguns programas tenham um carácter fixo, vão sempre beneficiando das exposições que aqui acontecem. Outro aspecto prende-se com as publicações do serviço educativo não responderem à programação anual, mas procuram equacionar temas e aspectos fundamentais da actividade da Fundação. Dada a rapidez com que as exposições se sucedem não há propriamente uma publicação para cada uma, mas isso não significa que no futuro não possa ser diferente.

Uma ponte entre a escola e o museu

Que tipo de projectos desenvolvem com as escolas?

Temos um projecto anual que envolve um conjunto de actividades. Para este ano lectivo o tema é Jardins Portáteis. Convidamos alguns artistas para conceber oficinas em torno desta temática e assim damos o mote para o início do projecto. Os professores vêm ao museu participar nessas oficinas, trazem os alunos, mas depois o projecto é realizado ao longo do ano na escola. Parte do material usado é fornecido pela Fundação. No culminar do projecto faz-se uma exposição. Há sempre um grande entusiasmo por parte dos alunos em ver os seus trabalhos expostos no museu. É uma forma de eles se apropriarem do espaço e uma experiência bastante positiva. Para além deste projecto, existem as visitas orientadas, as oficinas temáticas e as ?aulas no parque?, que são desenvolvidas em articulação com os currículos escolares.

De que forma os conteúdos museológicos estão a ser articulados com os currículos escolares?

Temos vindo a apostar numa série de programas, destinados aos alunos do ensino básico, denominados ?aulas no parque? e ?aulas no museu? cujos conteúdo se articulam com disciplinas como as de Ciências da Natureza, de Educação Visual, de Estudo do Meio. É uma forma dinâmica de abordar temáticas indo além do que é possível fazer na sala de aula. Estes programas são estruturados de modo a que cada grupo de alunos venha ao museu uma vez por período. Assim, contrariamos a ideia de que um museu se visita uma vez e fica visto. São delineados objectivos diferentes para cada visita, independentemente da área ser a das artes ou a das ciências. Há ainda uma preocupação em abordar as temáticas numa vertente mais prática. Nas ?aulas no museu?, por exemplo, proporcionando o confronto directo com as exposições, o debate em torno da interpretação das obras, o uso de vocabulário próprio para nos expressarmos sobre determinada exposição, ou seja, um olhar directo para as coisas. As actividades dirigidas ao ensino pré-escolar assumem um carácter mais lúdico.

Quem são as pessoas que orientam esse trabalho com as escolas...

Os monitores que orientam essas ?aulas? podem ser de áreas tão diversas como a História da Arte, a Biologia, as Belas Artes, a Arquitectura e as Ciências Agrárias. Alguns monitores são professores dos mais diversos níveis de ensino. Por isso quando pensamos estruturar programas desta natureza há um estudo prévio, exaustivo do que são as matérias abordadas nos programas escolares e a partir daí vamos criar a ligação com o que existe em Serralves. Chamam-se ?aulas?, mas não pretendemos reproduzir um ambiente de sala de aula. É um momento de acção, de fazer e de se relacionar com.

Conhecer Serralves através das suas publicações

Arte e Paisagem, Colecção Cadernos de Arte Contemporânea, Elvira Leite e Sofia Victorino

É uma publicação dirigida aos professores que tem como ponto de partida as esculturas do Parque de Serralves. Oferece uma sinopse do artista responsável pela escultura, um conjunto de palavras e referências associadas à obra em causa. No fim do livro um pequeno Glossário dá os significados de alguns termos ligados ao vocabulário da Arte.

Guia Percursos no Parque de Serralves

Para mostrar que Serralves significa também ?ar livre? e cheiro a relva. Este livro oferece pistas para uma visita guiada pelo mundo natural que os jardins e quinta de Serralves têm para oferecer. Informações sobre as plantas e animais existentes e sugestões de percursos para melhor explorar o parque.

Em destaque no Museu

A ?Década de 1980? é a temática escolhida para a exposição que de 10 de Novembro a 4 de Fevereiro de 2007, será apresentada em Serralves. Sofia Victorino, directora dos Serviços Educativos do Museu de Serralves, entende que ?este será o momento mais marcante do ano?, uma vez que a exposição irá ocupar todo o espaço do Museu. Algo que não acontecia desde a sua exposição inaugural intitulada "Circa 1968". Comissariada por Ulrich Loock, director-adjunto do Museu de Serralves, a exposição constitui, para Sofia Victorino, uma oportunidade de reequacionar um período que tende a ser esquecido quando se fala de Arte Contemporânea, habitualmente mais vinculada aos anos 60 e 70. A exposição vai contar com obras de cerca de 70 artistas portugueses e estrangeiros, em vários suportes: pintura, escultura, instalação e vídeo.

Contactos do Serviço Educativo
Rua D. João de Castro, 210
4150-417 Porto
Telefone: 226156546
Email: ser.educativo@serralves.pt

Perfil

Sofia Victorino

Nasce em Lisboa em 1973. Licenciada em Comunicação Social e Cultural na Universidade Católica Portuguesa (Lisboa) em 1997, prossegue estudos no Goldsmiths College, em Londres, onde realiza um Mestrado em Sociologia da Cultura, como bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia.
No seu currículo destacam-se a passagem pela Comissão Europeia, em Bruxelas e Lisboa (Expo?98), ligada à Direcção-geral de Informação, Comunicação e Cultura, e pelo Departamento de Descentralização e Difusão do Instituto Português das Artes dos Espectáculos, ligado ao Ministério da Cultura. Como free-lancer, concebe e desenvolve programas educativos para diferentes públicos, em várias instituições culturais: Culturgest, Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural de Belém, Museu das Comunicações. A par desta actividade, colabora como assistente do artista plástico Julião Sarmento. Desde 2002, Sofia Victorino assume funções de Coordenadora do Serviço Educativo da Fundação de Serralves.


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 160
Ano 15, Outubro 2006

Autoria:

Sofia Victorino
Coordenadora do Serviço Educativo da Fundação de Serralves
Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação
Sofia Victorino
Coordenadora do Serviço Educativo da Fundação de Serralves
Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo