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Espaços, brincadeiras e esporte

O homem é social, histórico e cultural e por isso ensina e aprende em todos os espaços-tempos de sua vida. Há alguns que são legitimados na modernidade, como aqueles que são entendidos como os locais onde ocorrem o ensino e a aprendizagem: as escolas (Alves, 2000). A introdução das crianças nesses espaços-tempos de aprender/ensinar tem obedecido a uma tendência nas grandes cidades pois, cada vez mais precocemente, as crianças têm tido seus primeiros contatos com esse universo.?O normal da vida da criança é brincar.....Brincar não significa para a criança fazer algo diferente. Essa distinção só aparece quando lhe ensinamos categorias distintas de atividades, naturalmente, o brincar torna-se oposto de estudar e trabalhar.?(Santin,1994 p.166). A pedagogização das brincadeiras pelos professores da educação infantil são meras tentativas de adequação do espaço escolar à necessidade natural da criança em brincar, como se entendessem  o jogo ou a brincadeira somente como um método de aprendizagem infantil. Essa é uma  proposta interessante já que é melhor uma escola com brincadeiras do que uma sem elas. Mas brinca-se quando se tem vontade e não quando o professor diz que é a hora de brincar.
No espaço-tempo da escola existe uma rede de relações entre os alunos, rica na troca de experiências entre eles. Mas e o espaço-tempo de brincar, de experimentar as relações com o outro, sem que estas sejam forçadas pela participação, em  comum, em uma instituição?  Cria-se esse espaço-tempo nas, cada vez mais raras, brincadeiras de rua nas quais as crianças moradoras de um prédio interagem em redes com as crianças de outros prédios da mesma rua, tecendo conhecimentos e vivências de brincadeiras antigas ou novas, dando uma característica única a uma rua dentro do mesmo bairro. Assim, levam para o espaço comum da rua, as brincadeiras nascidas, inventadas ou experienciadas em um prédio e retornam dela com brincadeiras aprendidas com as crianças de outros edifícios. Muitas vezes retornam com as mesmas brincadeiras mas modificadas ou reforçadas pela participação de outras crianças na sua experimentação. As experiências dos grupos de crianças, já tecidas pela diversidade de seus integrantes, entrelaçando-se nas ruas às culturas de outros grupos em brincadeiras permite vivências nas quais a desigualdade é reconhecida e aceita como produtora de cultura.
Nesse aspecto, dentro e fora da escola, há uma ultrapassagem de limites, dos muros da escola às grades dos edifícios: em uma o espaço-tempo dos recreios e outros tempos vagos são tomados por brincadeiras provenientes dos espaços não-escolares. Na rua, aprende-se e ensina-se brincadeiras incorporadas aos trabalhos da escola.
Na área dos esportes, as instituições de ensino e as esportivas ajudam com a iniciação esportiva, no treinamento esportivo infantil ou no aperfeiçoamento da capacidade esportiva do jovem atleta. Porém, há algo anterior à descoberta do talento esportivo do atleta pelas instituições e que funciona como motor primário no desenvolvimento individual do futuro atleta. As atividades físicas e os jogos esportivos informais, praticado nas ruas, praças, praias, play-grounds ou mesmo as atividades praticadas dentro das instituições de ensino e esportivas, quando as crianças reúnem-se sem a presença de um professor ou adulto que coordene a atividade, parecem atuar de forma decisiva no desenvolvimento da criança de suas possibilidades em se revelar como atleta. Essa experiência esportiva através do jogo informal, desfrutado com prazer e motivação, em uma rua do seu bairro com chinelos ou pedras demarcando as balizas e com a organização feita pelos membros das equipes, reforça a possibilidade da aprendizagem em redes no esporte nas quais jogar contra o outro, torna-se jogar com o outro.

Referências bibliográficas:

  • ALVES,Nilda. Espaço e tempo de ensinar e aprender. In: Linguagens, espaços e tempos no ensinar e aprender. 10° ENDIPE. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.
  • SANTIN, Silvino. Visão lúdica do corpo. In: DANTAS, Estélio H.M. (Org.) Pensando o corpo e o movimento. Rio de Janeiro: Shape Ed., 1994.

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 159
Ano 15, Agosto/Setembro 2006

Autoria:

Fernando Corrêa de Macedo
Professor de Educação Física. Professor no Centro Universitário Celso Lisboa. Membro do Grupo de pesquisa ?As redes de conhecimentos em educação e comunicação: questão de cidadania.
Fernando Corrêa de Macedo
Professor de Educação Física. Professor no Centro Universitário Celso Lisboa. Membro do Grupo de pesquisa ?As redes de conhecimentos em educação e comunicação: questão de cidadania.

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