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A TV é uma pedagogia eficiente!

Com o avanço das tecnologias de informação e de comunicação, novas áreas de aprendizagem invadem o cotidiano de crianças e jovens em todo o mundo. Nesse cenário, a escola disputa espaço com os modernos meios de comunicação de massa, sobretudo com a televisão. Estudos recentes revelam que as crianças gastam, em média, três horas diárias assistindo TV, 50 por cento a mais do tempo gasto com qualquer outra atividade como, por exemplo, ler, brincar ou ficar com os amigos.
Diante disso, não seria exagero caracterizar a TV como a primeira professora da criança contemporânea, pois ela é conhecida no ambiente familiar e num período anterior ao processo de escolarização. Ao ingressarem na escola, os educandos já são telespectadores assíduos e, em muitos casos, o tempo gasto por eles diante da TV é superior ao número de horas dedicadas às atividades escolares. Além disso, enquanto à escola cabe a tarefa de reproduzir o conhecimento historicamente acumulado e cientificamente legitimado, a TV seduz pela obsolescência de seus conteúdos e de suas mensagens, apresentando algo de inesperado diariamente. Ao contrário da escola, o acesso à TV não exige preparo, habilidade ou conhecimento anterior.
As constatações advindas de estudos e pesquisas apontam que a influência que a mídia televisiva exerce sobre as crianças excede os limites do entretenimento. Nessa perspectiva, a mídia televisiva é identificada como uma área de aprendizagem portadora de um currículo cultural, potente na disseminação de estereótipos culturais e de modelos de papéis.
Entretanto, a TV, ao lado de outras tecnologias de entretenimento e de comunicação, como os jogos eletrônicos e os telefones celulares, configura-se como um traço da cultura infantil ignorado pela escola. Mas, mesmo ignorada, a TV está presente nas salas de aula através das crianças que as freqüentam, por meio de seus diálogos, de seus relatos e de seus anseios. Ainda que ignorada pela escola, a TV desperta e concentra a atenção das crianças, seres tão ágeis e curiosos em suas descobertas. E, enquanto a escola ignora o potencial altamente educativo da TV, ignora também a possibilidade de utilizar o seu conhecimento social como uma estratégia pedagógica capaz de responder às expectativas das crianças e dos jovens.
Permanecemos debruçados sobre livros, na tentativa de compreender a educação e a infância, ignorando a dinâmica das múltiplas experiências sociais que são parte da cultura infantil. Enumeramos conteúdos e conhecimentos formais a serem ensinados na escola, silenciando as vozes das crianças e suas manifestações culturais. Continuamos acreditando, ingenuamente, que o conhecimento está apenas nas bibliotecas e nas salas de aula, quando há um conhecimento social presente nas mais variadas experiências extra-escolares dos educandos. Ignoramos a TV, enquanto ela, meticolosamente, continua sendo uma pedagogia eficiente e de enorme impacto entre as crianças. 


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 158
Ano 15, Julho 2006

Autoria:

Cleuza Maria Sobral Dias
Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Brasil
Joice Araújo Esperança
Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Brasil
Cleuza Maria Sobral Dias
Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Brasil
Joice Araújo Esperança
Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Brasil

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