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Por nossos filhos

Sou cidadã brasileira e solicito alguns minutos da sua atenção para a  leitura deste artigo.

Diante de tudo que temos assistido na TV , lido nos jornais e ouvido de amigos muito próximos sobre a onda de violência que enfrentamos atualmente em nosso país, eu gostaria de suplicar-lhe  como mãe e dona de casa que reflitamos sobre o futuro de nossos filhos e nos juntemos para tomarmos alguma  atitude.
Assistimos estarrecidos, porém passivos, às maracutaias e falcatruas das quais os nossos políticos e governantes se utilizam para  nos enganar e desviar o dinheiro de nossos impostos, pagos com extremo sacrifício,  em causa própria.  Como numa grande pirâmide, em geral começam de cima mas  vão sendo refletidos  em todos os setores que baseiam a nossa sociedade. Em especial na Educação, na Saúde e na Segurança pública onde todos em tese  deveriam ter seus direitos garantidos.
Em nosso país a Constituição é como se não existisse, mesmo sendo a carta magna que deveria reger nossas leis, nossos atos e nossos direitos. Uma minoria que pode pagar bons advogados, burla nossa Carta Magna e gargalha, samba e mente diante dela, sem nenhum pudor, em rede nacional .
Por incrível que pareça, talvez por esses ambíguos sentimentos que só a maternidade (ou a paternidade) nos confere,  quando vejo um desses marginais travestidos de políticos e governantes sendo desmascarados diante do povo, preocupo-me com os  infelizes de seus filhos. Pois é, por uma tola inocência de mãe tenho tanta compaixão por eles  quanto  tenho pelos  filhos de cidadãos honestos.
Crédula, penso que os filhos destes meliantes têm os mesmos sentimentos de vergonha, desilusão e desapontamento que meus filhos teriam se vissem seus pais mostrarem toda a sordidez  que um ser humano é capaz de ter, e no entanto  não mostrarem nenhum arrependimento por isso. Como será que eles se explicam diante de seus filhos?  Como será? Que macabra  retórica armam também para eles?
Perplexa com tudo isso volto a solicitar sua atenção para o mundo que estamos permitindo que arquitetem para nossos filhos. Quando não conseguem sequer irem para a escola sem serem molestados por assaltantes e terem seus pertences íntimos, desejados e queridos violados e seqüestrados quase diariamente, algum cidadão de bem consegue lembrar de outra explicação senão daquela que acostumamo-nos a dar-lhes? ? Ainda bem que não fizeram nada pra vocês e estão bem.
Outro dia ouvi de meu filho de 16 anos  a seguinte frase, após lhe terem roubado a bicicleta, que tinha acabado de ganhar, quando se dirigia para a escola ? Bem, eu? Por que? Estou é muito angustiado isso sim, na hora senti foi vontade  de morrer !
Por isso exorto todos os cidadãos que não conseguem mais arrumar desculpas para seus filhos que se unam contra esta impotência que sentimos diante do tormento  que vivem os seres que mais amamos no mundo. Deixemos de ser passivos, conclamemos amigos, vizinhos, autoridades escolares, associem-se em comunidades contra este espetáculo que estamos sendo obrigados a participar! Façamos alguma coisa ! Mandem e-mail de mobilizações, usem a internet, telefones, celulares, cartas para jornais e revistas ou seja lá o que for como instrumento de denúncia contra todos os  tipos de ilegalidades.
Infelizmente o maior título de intelectualidade que tenho é o de licenciatura em Letras e em Artes Plásticas  pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pela Unibennett, respectivamente,  e sei que perante grande parte da sociedade  isso não vale muita coisa,  ainda por cima o único trabalho ao qual me dediquei mais tempo durante meus 46 anos de vida  foi o de mãe e dona de casa.
Infelizmente, para muitos sou mais uma entre tantas a quem quase ninguém confere credibilidade. Mas mesmo assim, não desisto. Cidadão, peço a sua atenção para mim e reflitam seriamente sobre minhas palavras, mesmo que eu seja  só  uma Mãe.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 156
Ano 15, Maio 2006

Autoria:

Claudia dos Santos Vieira
Moradora no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro, é dona de casa, mãe de dois adolescentes e casada com um professor universitário
Claudia dos Santos Vieira
Moradora no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro, é dona de casa, mãe de dois adolescentes e casada com um professor universitário

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