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Em defesa dos animais

«Os animais do mundo existem para os seus próprios propósitos. Não foram feitos para os seres humanos, do mesmo modo que os negros não foram feitos para os brancos, nem as mulheres para os homens». Alice Walker

Maria Flávia de Monsaraz, Astróloga, em «17 Entrevistas e Um Poema», refere que: «A Evolução vai da Violência para a não-Violência, da não-Inteligência para a Inteligência. Violência é sinónimo de não-Inteligência. A Violência nasce do medo e medo é o que temos de mais irracional.»
De facto, o sentido da vida humana não é outro senão a harmonia com as Leis Universais, que apelam a que caminhemos da dualidade para a Unidade. Ao não fazer uso da sua inteligência e ao deixar-se dominar pelo medo e seduzir pelo instinto, o Homem separa o que está intrinsecamente unido, gerando o conflito, de onde parte toda a escalada de violência fomentadora do ódio que é dos sentimentos mais abjectos alguma vez criado. E eu acredito que a natureza humana é originalmente harmoniosa e não conflituosa...          
Erich Fromm em «Ética e Psicanálise», define um dos mais fundamentais princípios da ética, na expressão: «Tudo o que fizeres a outros, fá-lo-ás também a ti próprio» podendo ser interpretada na relação entre os Homens mas também transposta para a relação do Homem com os animais.
Provocar sofrimento aos animais é um acto bárbaro contrário à nossa verdadeira natureza e impróprio de nações civilizadas, ainda que, escudado na tradição e como forma de expressão ?cultural?. As tradições devem ser respeitadas desde que não violem os valores superiores da civilização. Neste caso, a Declaração Universal dos Direitos do Animal de 1978.
O modo como criamos e tratamos os animais - inclusive o facto de nos servirmos deles como alimento ou de os utilizarmos como peles ou acessórios -, os processos experimentais a que os sujeitamos em nome da ciência, o abandono e maus tratos que lhes infligimos, a vida em cativeiro que lhes impomos, a comercialização, o tráfico e a utilização destes para nosso entretenimento: no circo, na caça, na tourada, no jardim zoológico... partindo do princípio que eles existem para nosso prazer e conveniência e que a sua vida pouco conta comparada com os nossos desejos, são reflexo da nossa trajectória evolutiva.
O caso das touradas, por exemplo, que continuam a ser realizadas nalguns países e nalgumas regiões - Portugal, Espanha, México e algumas cidades do sul de França - causando o sofrimento de touros e cavalos e acabando algumas vezes, apesar de proibido, com a morte do touro sob a inoperância das autoridades é um espectáculo degradante em que a arte é a tortura e a violência é a cultura. Veja-se o recente ?regime de excepção? para Barrancos em relação às touradas de morte. Onde o Estado português respondendo ao apelo dos aficcionados pela atracção mórbida pelo sangue permite que se mate o animal para gáudio dos presentes.
Enquanto as plantas, como seres vivos, não têm cérebro nem sistema nervoso, os animais tal como os Homens possuem-nos. A grande diferença que nos separa destes reside no facto de possuirmos consciência da nossa identidade. Os animais têm inteligência e sentimentos - e por isso sentem dor -, mas reagem por instintos, pois estão desprovidos de consciência. Essa consciência é, na verdade, uma forma de pensar a respeito de quem nós somos, moldada pelos registos acumulados de acontecimentos agradáveis e desagradáveis que residem sobre a forma de memórias em cada uma das nossas células. Quando o Homem reage exclusivamente por instintos coloca-se ao nível do quadrúpede...
Para que haja evolução é preciso que exista mudança na forma de pensar e no modo como agimos. Os instintos contrariam-se em nome do desenvolvimento pessoal e civilizacional. Se não tivéssemos aprendido a controlar os nossos impulsos nada nos separaria hoje do modo de vida dos povos primitivos. Comportamentos ancestrais mesmo que amplamente enraizados e tidos como naturais à custa da repetição e por força da educação, são sempre passíveis de serem questionados e motivo de aperfeiçoamento.
Errar é humano o que não é humano é persistir no erro, sobretudo quando esse erro significa infringir dor e sofrimento a outros seres, sejam eles humanos ou animais. E todos sabemos o quanto a crueldade humana pode ser realmente terrível e assustadora. A escravatura, o feudalismo, o colonialismo, o genocídio de índios, o fascismo, o nazismo, as cruzadas e a inquisição são disso tristes testemunhos.
«Lembro-vos aqui serem a expansão de consciência, a produção de sensibilidade crescente e a percepção consciente, a meta de todo o esforço divino e hierárquico.» Alice A. Bailey


  
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Edição:

N.º 155
Ano 15, Abril 2006

Autoria:

Paulo Marques
Professor
Paulo Marques
Professor

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