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A valorização da escola através do conhecimento do seu passado

Herança educativa e novas práticas escolares

Trabalho há vários anos no inventário e elaboração de propostas, com vista a constituir um museu da escola na região do Porto, e no apoio a iniciativas de preservação promovidas por grupos de professores. O contacto com eles tem-me ajudado a reflectir sobre o abandono do património escolar e a dificuldade em congregar esforços para se conservar a memória das escolas. Vou apenas referir uma dessas razões, que se soma a várias outras: esta preocupação com ?as coisas velhas? é olhada com desconfiança, como mais uma tarefa, que se propõe aos professores. Além disso, uma boa parte dos professores, sem vínculo às escolas, tendem a ignorar tudo ou quase sobre o local onde trabalham. É necessário tempo para identificar os lugares da casa, para se construir uma percepção do espaço, social, físico e cultural em que nos movemos. Mas também são necessários instrumentos teóricos, reflexão, em suma, perspectivas inconformadas para transformar a realidade, as nossas realidades.
O que existe nas escolas é um património comum, antes de mais aos professores/as, resultante da sua actividade diária, na interacção com os alunos. Faz parte da sua identidade profissional, testemunham as transformações da docência e da aprendizagem.
A profissão tem história e os edifícios, os materiais escolares, o mobiliário, a cantina, as brincadeiras das crianças, as fotos, as histórias e as vidas dos nossos colegas mais velhos, ajudam a narrá-la. E tudo isso está ao alcance da mão. Conservar, tratar, estudar, fazer pequenos projectos com os alunos acerca da história da escola, por onde passaram talvez os pais, quem sabe, os avós, é uma forma de valorizar a escola aos olhos dos estudantes, das famílias e da comunidade.
E se nas escolas há alunos de diversas procedências geográficas ou étnicas, é uma oportunidade de valorizar a participação de todos, dando a conhecer, uns aos outros, formas diferentes de escola, de educação, de aprendizagem. É também um meio para ajudar a construir a difícil categoria de tempo, trabalhando com ela de forma concreta; de se construir na observação, no registo e pela execução prática, noções básicas de conservação, que liguem conhecimentos científicos à prática da preservação e valorização dos materiais e da memória colectiva no campo da educação, envolvendo os alunos, de uma forma activa, estendendo esse envolvimento às próprias famílias.
Aparece como uma mais valia no envolvimento da escola na comunidade e uma forma efectiva de inovar nas práticas escolares.  As inovações em educação ocorrem geralmente quando, através de pequenas transformações, logramos alterar as práticas quotidianas.
A herança cultural é um bem de todos e de cada um. Salvaguardá-la é uma responsabilidade colectiva e um exercício de cidadania.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 153
Ano 15, Fevereiro 2006

Autoria:

Margarida Louro Felgueiras
Professora e investigadora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto
Margarida Louro Felgueiras
Professora e investigadora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto

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