O interesse de muitos governos pela energia nuclear volta a ser um facto. Tal situação deve promover o interesse dos cidadãos em conhecer os prós e os contras de tal opção. O papel dos professores, nestes debates, é particularmente sensível.
O interesse pela energia nuclear, uma velha inimiga do movimento ambientalista, está de regresso em muitos países, onde questões de dependência energética e o aumento do custo dos combustíveis fósseis provocaram mudanças políticas. No final de Janeiro, a Grã-Bretanha anunciou a intenção de fazer uma consulta pública sobre o futuro das suas fontes energéticas, ressuscitando o espectro de um regresso à energia nuclear, e a França defendeu o recurso ao nuclear como parte do futuro da política energética na União Europeia. Estima-se que os combustíveis fósseis respondam por cerca de 80 por cento da energia mundial, mas a produção de gás e petróleo poderá atingir o seu limite nas próximas três décadas, afirmam alguns especialistas. Jean-Marie Chevallier, director da Cambridge Energy Research Associates e professor da Universidade francesa de Paris-Dauphine, considera "lógica" a discussão sobre energia nuclear na actual conjuntura. A dependência europeia do gás estrangeiro veio à superfície nas últimas semanas, depois de um impasse entre a Rússia e a Ucrânia no início do ano, que provocou a redução temporária do abastecimento a alguns países da União Europeia. Além disso, preocupações ambientais e a ideia de que as energias renováveis não são capazes de substituir os combustíveis fósseis, trouxeram a energia nuclear de regresso à ordem do dia. A energia nuclear parece ser "uma solução parcial", afirma Chevallier, que reforçou que apenas três países europeus decidiram recentemente construir novas centrais nucleares: França, Finlândia e Roménia. "Entre os países que sentimos estarem a começar a pensar na energia nuclear na Europa estão a Grã-Bretanha, Espanha, Suíça e Holanda, que acabou de prolongar a vida útil de uma central por mais 20 anos", acrescenta. O comissário europeu para os assuntos económicos Joaquin Almunia disse recentemente que seria "suicídio" os governos europeus absterem-se da energia nuclear. Durante um encontro em Bruxelas, o ministro das Finanças francês, Thierry Breton, explicou a visão de Paris sobre o que deve ser o futuro da política energética na União Europeia. De acordo com ele, a política energética europeia deveria levar em consideração "o crescente aumento da tensão em todo o mundo na situação entre fontes e procura de petróleo e gás, e mudanças climáticas", afirmou. "Manter a contribuição da energia nuclear no menu energético europeu e preservar a posição tecnológica e industrial europeias neste campo, são questões de importância estratégica para a União Europeia", disse. Na França, um líder exportador de electricidade na UE, quase toda a electricidade (80%) do país tem origem nuclear. Mesmo na Alemanha, onde a oposição à energia nuclear é mais consolidada, o debate também está de regresso. Chevallier destaca que os receios sobre as mudanças climáticas e o reconhecimento da necessidade da redução das emissões de gases causadores de efeito estufa, foram outros argumentos favoráveis à energia nuclear. "A Finlândia, um país democrático e muito preocupado com problemas ambientais, decidiu construir uma central nuclear em vez de usar gás vindo da Rússia", diz. Nos Estados Unidos, onde a questão do nuclear não é um tema tão quente entre a opinião pública, as autoridades estão ansiosas em adquirir um Reactor Europeu a água Pressurizada (European Pressurized Reactor, EPR) de terceira geração, desenvolvido em conjunto pelo grupo nuclear francês Areva e pela alemã Siemens. No Japão, o gigante energético Toshiba revelou ter dado preferência à construtora de centrais nucleares americana Westinghouse sobre a concorrente General Electric. A Westinghouse construiu 49 reactores nucleares em funcionamento nos Estados Unidos contra 35 produzidos pela General Electric. A concorrência aberta pela Toshiba ocorre num momento em que o Japão se mostra ansioso por relançar o seu programa nuclear civil. Enquanto isso, o Governo Chinês lançou um projecto de 50 biliões de dólares com o objectivo de construir 40 reactores até 2020. E na França, Jacques Chirac anunciou recentemente planos para desenvolver o protótipo de um reactor de quarta geração que estaria a funcionar em 2020.
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