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Algumas questões para pensar as práticas escolares

O tempo e o espaço na contemporaneidade

... a tecnologia e a mídia estão configurando diferentes formas de os indivíduos lidarem com o tempo e o espaço, tornando efêmero e volátil o que se quer, o que se faz e o que se pensa (...) de que forma a escola tem trabalhado com esta instabilidade que a sociedade pós-moderna nos apresenta?

Nossas atividades cotidianas são organizadas e pensadas conforme tempos e espaços que possibilitem que as mesmas ocorram de determinada forma. Tais modos de organização, embora possam variar entre grupos, cidades, países, são decorrentes de um longo aprendizado através do qual passamos a utilizar o nosso tempo, a controlar nossas atitudes e o que devemos ou não fazer de acordo com os espaços que ocupamos e com as pessoas com quem nos relacionamos. No entanto, essas atitudes se modificam de acordo com os momentos históricos, interesses políticos, econômicos e sociais. Atualmente, a tecnologia e a mídia estão configurando diferentes formas de os indivíduos lidarem com o tempo e o espaço, tornando efêmero e volátil o que se quer, o que se faz e o que se pensa. Tal efemeridade é representativa da fluidez de como esses elementos estão sendo (re)organizados em uma sociedade que está vivendo em ?condição pós-moderna? (HARVEY, 2003), tornando obsoleto o jeito moderno e linear de planejar o futuro. Nesse sentido, é possível perceber que a provisoriedade abala as certezas da sociedade, das relações pessoais, das formas de ser e de habitar a contemporaneidade, pois vivenciamos diariamente uma gama de situações que rompem com a forma estável de disposição do tempo e do espaço. Podemos citar, como alguns exemplos, a grande quantidade de e-mails que chegam como uma avalanche em nossas caixas postais, nossas comunicações em tempo ?real? através do MSN e chats na Internet, as informações que recebemos a todo instante da mídia televisiva a respeito dos acontecimentos no mundo, das atividades diárias que já ultrapassam os limites de nossas agendas, dos torpedos que enviamos para nossos amigos, do crescente número de instituições como academias e supermercados que funcionam cada vez mais por 24 horas.
Ao vivenciarmos um espaço e um tempo flexíveis e instantâneos, cuja relação entre o próximo e o longínquo, o certo e o errado já não mais se configuram da forma estática e previsível conforme o mundo moderno estruturou, consideramos importante questionar de que forma a escola tem trabalhado com esta instabilidade que a sociedade pós-moderna nos apresenta. Como o tempo e o espaço têm sido vivenciados na escola? O que significa ser considerado não aprendente, em condições pós-modernas, quando crianças e adolescentes, tornam-se, também, móveis, menos fixos e mais ágeis na utilização dos tempos e espaços?
Nessa perspectiva, faz-se interessante destacar as contribuições de Costa (2005), quando evidencia através de suas pesquisas que as crianças, ao chegarem à escola, já estão posicionadas por diferentes discursos, o que caracteriza a multiplicidade das identidades que se reconfiguram a cada novo jogo, boneco/a, desenhos animados entre outros estratagemas da sociedade contemporânea. Apesar das tentativas de controle que constituem os currículos escolares, os alunos demonstram, cotidianamente, outras formas de pensar e vivenciar os tempos e espaços, portanto suas resistências às padronizações impostas pela escola e aquilo que chamamos de indisciplina, aluno/a não aprendente não poderiam ser indícios das marcas de uma sociedade onde as regras do jogo estão flutuantes e propícias a liquidez do momento?
Nesta trama, na qual estamos todos enredados, cabe refletir sobre como a escola, através de suas práticas escolares que ainda pensam o desenvolvimento humano como ordenado, linear e inabalável, tem-se relacionado com o espaço e o tempo e quais os seus efeitos na produção dos sujeitos que por ela passam.

Referências Bibliográficas

? COSTA, Marisa Vorraber. Quem são, que querem, que fazer com eles? Eis que chegam às nossas escolas as crianças e jovens do século XXI. In: MOREIRA, Antonio Flávio; GARCIA, Regina Leite; ALVES, Maria Palmira (Orgs.). Cultura e política de currículo. Araraquara: Junqueira&Marin, 2006. (no prelo).

? HARVEY, David. Condição Pós-Moderna. Uma pesquisa sobre as Origens da Mudança Cultural. Tradução de Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçalves. 12 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2003.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 153
Ano 15, Fevereiro 2006

Autoria:

Mirtes Lia Pereira Barbosa
Alunos do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e membros do Núcleo de Estudos sobre Currículo, Cultura e Sociedade ? NECCSO
Rodrigo Saballa de Carvalho
Pesquisadores do Núcleo de Estudos sobre Currículo, Cultura e Sociedade ? NECCSO. Federal do Rio Grande do Sul - Brasil
Mirtes Lia Pereira Barbosa
Alunos do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e membros do Núcleo de Estudos sobre Currículo, Cultura e Sociedade ? NECCSO
Rodrigo Saballa de Carvalho
Pesquisadores do Núcleo de Estudos sobre Currículo, Cultura e Sociedade ? NECCSO. Federal do Rio Grande do Sul - Brasil

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