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Comunicação Social Americana ignora milhares de feridos na guerra do Iraque

O número de soldados americanos feridos no Iraque, calculado em mais de 16 mil, metade dos quais com gravidade (ou que, na terminologia do Pentágono, "não foram reincorporados nas 72 horas seguintes"), é um tema tabu na imprensa americana. Assim, se alguns meios de comunicação publicam ou veiculam perfis de soldados feridos que se readaptam à nova vida, poucos fazem referência aos problemas pessoais que afectam a maioria deles, a dificuldade em voltar ao mercado trabalho ou a luta por indemnizações por invalidez.
?É ocultado sobretudo o caso dos soldados que sofrem problemas psíquicos depois de retornarem do Iraque?, refere Leo Braudy, professor da Universidade de Santa Clara, na Califórnia, e autor de um livro sobre o exército americano. Segundo ele, a razão para esta atitude deve-se, em grande parte, à traumática lembrança da guerra do Vietname, mas também porque os meios de comunicação social evitam pôr em causa o esforço de guerra. "A maioria dos temas sobre o retorno dos feridos celebra a sua valentia. No entanto, tendo em conta o número impressionante de feridos, é impensável que a maioria das histórias seja tão positiva", afirma Braudy.
Segundo Robert Thompson, director do Centro de Estudos sobre Televisão da Universidade de Syracuse, esta opção não está ligada a preocupações de audiência ? já que, em geral, as histórias atrozes atraem mais a atenção dos telespectadores ? mas porque ?mostrar feridos causa uma maior reflexão, o que por certo não interessa a um governo que defende a guerra e experimenta dificuldades em recrutar militares", diz Thompson.
Alguns meios de comunicação social, refere, seguem esta linha para evitar que sejam acusados de estarem contra a guerra, mostrando-se reticentes em publicar arquivos ou difundir imagens pessimistas sobre a guerra, em particular de feridos deprimidos ou com mau aspecto, ?como se uma guerra não produzisse carnificina e imagens macabras, ressalva Thompson, concluindo que esta mentalidade, herdada do 11 de Setembro, perde força à medida que se desfaz o consenso sobre a guerra".


  
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Edição:

N.º 151
Ano 14, Dezembro 2005

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

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