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Formação Ritual e Universidade

Estudante universitário

O ensino superior se depara com a problemática da dificuldade de assimilação do pensamento complexo (ciência, filosofia, etc.). A Universidade teria o papel de formar cientistas, filósofos, tais como economistas, sociólogos, biólogos, historiadores, psicólogos, pedagogos, químicos, físicos, geógrafos, etc., e isto significaria que o indivíduo ao término de seu curso teria o domínio de sua disciplina. Porém, isto não ocorre na realidade na maioria dos casos. Este processo possui múltiplas determinações, inclusive o grau de engajamento do estudante neste processo, bem como as condições estruturais da universidade, o corpo docente, o incentivo à pesquisa, o capital cultural herdado do aluno, etc. No entanto, grande parte dos alunos concluem o curso e pegam o diploma e o direito legal de exercício da profissão sem ter domínio da disciplina em que se formou. Assim, a formação da maior parte dos estudantes universitários é uma formação ritual.
A formação ritual é aquela na qual o aluno conclui o curso superior  sem possuir o domínio do metier de sua disciplina. Assim, podemos considerar a existência de dois tipos de formação, a ritual, que significa a conclusão de um curso, com seus diplomas e ritos, e a estrutural, que além do processo formal/ritual, abrange o domínio mais amplo da disciplina. Isto quer dizer que nem sempre as pessoas que concluem um curso superior e se tornam aptas legalmente a exercerem uma profissão científica, possuem uma formação estrutural.
A formação ritual significa a titulação e um restrito acesso ao saber científico de sua área. A formação ritual permite a simultânea simplificação do saber científico e tradução das representações cotidianas em linguagem científica, onde o peso de cada um, se há predomínio do saber científico ou das representações cotidianas, depende do indivíduo em questão. Este é um grave problema do ensino superior e tem sérias conseqüências sociais, pois os diplomados com apenas uma formação ritual poderão atuar como profissionais, exercendo a profissão de psicólogo, sociólogo, médico, entre outras, ou seja, atuando e trabalhando com seres humanos, o que pode ser extremamente prejudicial aos mesmos. E a expansão do ensino universitário torna isto ainda mais grave, pois junto com o aumento da quantidade há, geralmente, a queda da qualidade.
Assim, é necessário repensar o ensino superior, para além das formas reificadas, que buscam através da quantidade e do produtivismo, juntamente com o formalismo ritualista, pensar a qualidade do ensino como algo mais amplo e complexo, no sentido de promover uma formação estrutural.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 150
Ano 14, Novembro 2005

Autoria:

Nildo Viana
Professor da UEG - Universidade Estadual de Goiás e Doutor em Sociologia pela UnB ? Universidade de Brasília
Nildo Viana
Professor da UEG - Universidade Estadual de Goiás e Doutor em Sociologia pela UnB ? Universidade de Brasília

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