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Novas regras devem ser instrumento para melhorar qualidade do ensino

PERMANÊNCIA DOS DOCENTES NA ESCOLA

Para construir a escola inclusiva é necessário que os docentes tenham tempo para planificar e preparar as aulas, bem como para articular e criar parcerias com os colegas do apoio, com técnicos e com as famílias.

O conceito de Escola Inclusiva não se resume à integração das crianças com Necessidades Educativas Especiais nas escolas regulares. Escola Inclusiva, é hoje, a escola do futuro, onde todas as crianças aprendem, onde se combate a exclusão e o insucesso e onde se preparam cidadãos pensantes, desenvolvendo competências e processos de socialização. A escola Inclusiva é, sem dúvida, uma escola de qualidade.
Para construí-la será necessário definir a escola que queremos construir, as metas a alcançar e a forma de lá chegar.
Haverá muitas opiniões sobre o assunto. Com certeza cada um terá a sua e muitos terão até as suas ideias já feitas. Algumas delas têm vindo à tona ultimamente como por exemplo: - se os alunos passarem mais tempo na escola esta será melhor; ou ainda: - se os professores trabalharem mais horas na escola isso melhora a qualidade do ensino.
Supomos que o tempo e a quantidade serão importantes, mas interessará mais discutir, o QUE os docentes fazem e COMO o farão.
Partimos do princípio que está já definido PORQUE o fazem: para melhorar a qualidade do ensino, julgamos nós, ou melhor, desejamos que as medidas a ser implementadas nas escolas neste início de ano lectivo tenham esse pressuposto.
Mas a melhoria da qualidade da nossa escola, passa fundamentalmente pela melhoria da forma como se processa a relação ensino-aprendizagem no interior das nossas salas de aula. Não podemos continuar a ter aulas como há 50 anos, no tempo em que olhávamos atentamente os nossos professores a falar uma hora seguida, sabendo que metade dos alunos jamais aprenderia o que o mestre acabara de dizer. A outra metade já o esqueceu.
Com todos os jovens na escola, as aulas de hoje devem necessariamente ser diferentes, porque a escola que queremos deve ser melhor para todos. Assim, só a implementação de estratégias de pedagogia diferenciada podem promover uma escola inclusiva.
A alternância de poder do docente para o aluno; a construção do saber em detrimento da sua mera transmissão; a participação e a igualdade de acesso, em vez de regras feitas e currículos em caixinhas estanques; a cooperação e a autonomia, em vez do individualismo e da competição.
Gostaríamos de ter aulas onde, para além do respeito pelos diferentes estilos de aprendizagem, fosse permitido que todos os alunos desenvolvessem o espírito crítico, a pesquisa e a descoberta. Onde se vivessem actividades pedagógicas mais inovadoras valorizando os processos (projecto, pares, grupo...) e se desenvolvessem capacidades como: pensar, expressar-se, resolver problemas e tomar decisões.
Mas para que isto seja possível é necessário dar aos professores condições e o tempo para planificar as suas aulas é a principal. Para construir a escola inclusiva é necessário que os docentes tenham tempo para planificar e preparar as aulas, bem como para articular e criar parcerias com os colegas do apoio, com técnicos e com as famílias. Será essencial que os docentes possam ter ainda espaços de reflexão e cooperação entre si, desenvolvendo processos de auto-formação e entre-ajuda. É fundamental que possam reflectir sobre a sua prática, dando passos para a sua transformação.
Porque acreditamos ser essencial dar tempo aos docentes para este tipo de trabalho, alimentámos a esperança que as recentes medidas de aumento da permanência dos docentes nos estabelecimentos de ensino, ao abrigo do despacho nº 17387/2005 de 12 de Agosto, tivessem esse pressuposto.
Infelizmente, a prática deste início de ano não nos mostra isso. Este tempo está a ser empregue prioritariamente em mais horas na abertura de escolas, em substituições, em actividades de tempos livres e até noutras funções ainda mais distantes da finalidade central da profissão docente.
Por se tratar de uma fase de implementação em que há clarificações a fazer, acreditamos que as coisas possam ainda vir ser diferentes.
Pode ser que as situações a que assistimos em muitas escolas não passem de erros de interpretação ou até de um grande mal entendido.
Gostaríamos muito que estas medidas de organização do trabalho docente não visassem critérios de quantidade, mas que fossem, em primeiro lugar, uma ferramenta para a transformação qualitativa das escolas e das nossas salas de aula.


  
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Edição:

N.º 150
Ano 14, Novembro 2005

Autoria:

Jorge Humberto Nogueira
Mestre em Educação Especial
Jorge Humberto Nogueira
Mestre em Educação Especial

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