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Especialista pede que os americanos ouçam mais atentamente a Al-Qaeda

Com um artigo escrito no jornal Boston Globe em Setembro, um especialista em Al-Qaeda da Universidade de Harvard causou controvérsia ao sugerir que, neste contexto de neurose quanto ao terrorismo, o povo americano deveria prestar mais atenção às exigências dos extremistas islâmicos.
Acusado pelos críticos de fazer apologia da Al-Qaeda, Mohammad-Mahmoud Ould Mohamedou questionou a reacção americana aos ataques de 11 de Setembro num artigo que representa o debate público mais aberto sobre como responder a Osama bin Laden e seus partidários.
"Desde os ataques, em Nova York e Washington, Osama bin Laden e Ayman al-Zawahiri mandaram, respectivamente, 18 e 15 mensagens de áudio ou vídeos com base em três questões: os Estados Unidos devem pôr fim à presença militar no Oriente Médio, ao apoio político e militar a Israel e também ao apoio a regimes corruptos e autoritários no mundo árabe e muçulmano", escreveu Mohamedou no Boston Globe sob o título "Tempo para dialogar com a Al-Qaeda?" Segundo ele, "desenvolver uma estratégia para a próxima fase da resposta global à Al-Qaeda requer a compreensão do inimigo".
Mohamedou citou a análise do ex-chefe da "unidade Bin Laden" da CIA Michael Scheuer. Num recente discurso no 'Army War College', Scheuer disse que militantes e não-militantes muçulmanos odeiam os Estados Unidos "por aquilo que fazemos no mundo islâmico, e não pelas nossas crenças democráticas e liberdades civis".
A vontade de académicos e analistas americanos de tornar este debate público revela uma mudança no clima político dentro dos Estados Unidos.
François Burgat, especialista francês em mundo árabe do Instituto Nacional de Investigação (CNRS), disse que a mudança no tom é "o começo da reavaliação crítica da lógica de toda a política de segurança" e " esta evolução é sem dúvida o resultado do agravamento da situação no Iraque e no Afeganistão. As lições dos ataques em Londres também foram absorvidas: a ameaça (do terrorismo) pode resistir ao formidável aparato de segurança".
Outro académico, da Universidade de Nova York, Allen Zerkin, disse que os governos terão de estabelecer uma trégua com a Al-Qaeda mais cedo ou mais tarde. "Para ser claro, os terroristas não podem vencer esta guerra, mas nós também não", disse ele, citando exemplos do IRA da Grã-Bretanha e do FLN da Nigéria na França.
Um estudo feito por Robert Pape, da Universidade de Chicago, também contesta o senso comum segundo o qual a motivação para o terrorismo é o fanatismo religioso.
Pape disse ter ficado "surpreso" ao descobrir num estudo sobre 463 suicidas que "quase 95% dos ataques suicidas pelo mundo desde 1980 não têm a religião em comum, mas claramente um objectivo estratégico: obrigar uma democracia moderna a retirar as suas forças do território que os terroristas dizem ser a sua casa".


  
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Edição:

N.º 150
Ano 14, Novembro 2005

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

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