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Pako em inglês de doca

Pako ensinou-me a cultura Hip Hop e falou-me de M.C., D.J., Graffity e B. Boy. Ele disse: há o M.C., o D.J., o Graffity e o B. Boy. E disse que era B. Boy. Eu fingi que sabia o que era ser M.C., B. Boy e tudo, mas Pako percebeu que eu não sabia nada disso e explicou. ?M.C. é ?Mestre de Cerimónias?. E o primeiro de todos os M.C. foi o jamaicano Kool Herc (dizem que nome artístico de Clive Campbell), ?poeta? dos anos 70, em inglês de doca, que é o inglês que muitos negros e o jornalista Júlio Roldão, amigo do Pako, falam. 
Um Mestre de Cerimónias é quem comanda o ritmo, é quem comanda o baile, baile de rua, de fim de tarde? (Ei, ei you manter as mãos no ar, toda a gente a dançar) Às vezes o M.C. é também o D. J. e D.J., toda a gente sabe, é ?Disc Jockey?. Depois há o Graffity e o B. Boy, aquele que pratica a Break Dance. Mas isso foi há mais de trinta anos, quando nasceu a cultura Hip Hop. Hoje o Hip Hop está a mudar, há uma ?new school?, uma nova escola resultante da fusão de vários estilos de jazz.
Pako diz que esta nova escola, que ele defende, afasta a cultura Hip Hop da marginalidade, inspirada nos gangues nova-iorquinos, e gera, na música, um novo movimento de intervenção. No novo Hip Hop há rebeldia, diversão e uma vontade enorme de intervir. Uma consciência.
Consciência muitas vezes assumida pela assinatura ?graffitiana? conhecida por TAG, marca que marca todas as cidades onde se ouve RAP nas ruas. RAP que significa, em inglês de doca, ritmo e poesia ? ?rhitm and poetry?. Isso disse Pako, em Copenhague, onde esteve a orientar um Workshop de ?Break Dance?, num encontro de jovens da Dinamarca, da Escócia, da Estónia, de Portugal e da Turquia que se realizou em Outubro na capital dinamarquesa, sob a chancela do projecto europeu ?Tambores pela Paz?, apoiado pela União Europeia.
Pako agora tem 25 anos e vive no Reino Unido. Mas já viveu no Porto, no Palácio dos Pestanas, hoje sede do Governo Civil, quando aquilo, antes de arder, era a casa de muitos sem abrigo.  Então Pako chamava-se só Francisco Carneiro de Almeida, filho de Maria Teresa e neto de Beatriz Pereira Carneiro.
Viveu numa barraca, ainda erguida nos escombros do Palácio dos Pestanas, antes de ir para o Bairro das Cruzes e para a Escola Preparatória do Cêrco onde descobriria o caminho para a dança ?por ser preto e toda a gente ter a mania que os pretos sabem dançar?. Não sabia, diz, mas entrou para um grupo de dança da escola que precisava de um rapaz. Depois foi ficando.
Um dia a Escola de Dança Ginasiano foi à Escola do Cêrco e descobriu-o. E Pako descobriu que dançar é muito mais difícil do que imitar os videoclip?s que passavam na televisão e o Michael Jackson. Trocou uma bolsa para aprender a dançar pelo curso, quase concluído, de técnico de electricidade e sobreviveu, servindo comida a peso num restaurante da Praça da Alimentação da portuense Via Catarina e dançando sobre o balcão de uma discoteca do Porto.
Hoje corre a Europa a orientar ?ateliers? de dança e deixa marcas, por onde passa, entre aqueles que ensina. São os ?So Kool?, grupos que já existem na Bulgária, na Dinamarca, na Estónia, em Inglaterra e em Portugal.  Comunidades fraternas que a ?new school? do Hip Hop está a gerar.
Pako, que até aos 18 anos nunca tinha escolhido a roupa que vestia (não tinha dinheiro para comprar roupa, vestia o que lhe davam), acredita nas segundas oportunidades e tem até um DVD, com a ?receita? desta nova escola de Hip-Hop, que gostaria de poder oferecer ás escolas portuguesas para que nestas se ?redescobrissem? e ?libertassem?, como ele, muitos outros que também não têm dinheiro para comprar a roupa que gostariam de vestir.
Isso disse Pako, português de Massarelos, de passagem em Copenhague, radicado em Leeds, e contactável em www.pakodance.com.


  
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Edição:

N.º 150
Ano 14, Novembro 2005

Autoria:

João Rita
Jornalista, Porto
João Rita
Jornalista, Porto

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