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Blair, ao espelho da sua barbárie

A solidariedade com as vítima inocentes dos atentados ocorridos na passada Quinta Feira em Londres, enquanto na Escócia se reuniam os líderes dos países mais poderosos do mundo, não devem ocultar o facto de que a tragédia ocorreu no contexto de uma guerra na qual a Inglaterra se envolveu de modo injustificado, torpe e criminoso pela mão do seu actual primeiro-ministro, Tony Blair.
Todo o governante sabe, e Blair não é excepção, que quando inicia um conflito bélico põe em risco a segurança dos seus habitantes.
A Inglaterra não tinha motivos - ao menos confessáveis - para acompanhar os Estados Unidos nessa ?guerra contra o terrorismo? que começou com a  ocupação e devastação do Afeganistão e prosseguiu com a invasão e destruição do Iraque. A experiência histórica do império britânico que no início do século passado foi a potência ocupante de boa parte do mundo árabe permitia conhecer de antemão as dificuldades e as consequências de uma nova aventura colonial nessa região do mundo. A mais elementar decência obrigava-a a distanciar-se das mentiras fabricadas pelo governo Bush para dar cobertura às suas incursões de rapina na Ásia Central e no Médio Oriente. No entanto, Blair decidiu acompanhá-lo activamente e tornar-se cúmplice e co-responsável pelas dezenas de milhares de mortos  - tão inocentes como os de Londres ? causados até agora pelas intervenções militares no Afeganistão e no Iraque, bem como a incalculável destruição material causada a essas nações pelas tropas norte-americanas, britânicas e de outras nacionalidades.
As cenas de destruição, pânico e morte que a capital britânica viveu no dia 7 de Julho são coisas diárias na martirizada e ocupada Bagdade, por mais que o etnocentrismo dos media internacionais se escandalize apenas com as primeiras e converta as segundas em mera rotina. É escandaloso, de facto, que um número equivalente de mortos iraquianos ocupem a centésima parte dos espaços noticiosos dedicados agora a cobrir o saldo trágico dos atentados em Londres.
Uma arrogância tipicamente imperial tem levado vário governantes ocidentais a supor que é possível hostilizar outras nações e levar-lhes a guerra, a destruição e o derramamento de sangue, tendo a salvo as suas próprias cidades. Assim acreditava o governo dos Estados Unidos até ao 11 de Setembro, Aznar até ao 11 de Março do ano passado e Blair até ao dia 7 de Julho.
Enquanto os soldados ingleses participavam na opressão e devastação do Afeganistão e do Iraque, a Grã-Bretanha celebrava a designação da sua capital como sede olímpica e recebia os estadistas mais poderosos do planeta, ostentando para tal medidas de segurança supostamente inexpugnáveis.
Ao longo de mais de um século, o Estado britânico envolveu-se em vários conflitos fora de portas, no mundo árabe, na Índia, na Coreia, no Suez, nas Malvinas, mas no seu próprio território apenas tinha sido atacada pelos bombardeiros alemães na II Guerra Mundial, bem como por atentados executados pelos independentistas do Ulster em décadas anteriores. Agora a guerra chegou a Londres, justamente quando se festejava o futuro olímpico dessa capital e quando o governo alardeava, na qualidade de anfitrião, a sua pertença ao G8.
A única atitude racional a tomar é responsabilizar politicamente por esta tragédia o primeiro-ministro inglês, o «socialista» (chauvinista) Blair.
Os britânicos saberão fazê-lo, pois em Bagdad é a nossa liberdade que está em jogo!


  
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Edição:

N.º 148
Ano 14, Agosto/Setembro 2005

Autoria:

João Cavaco de Medeiros
Professor do Ensino Secundário, Leitor de a Página
João Cavaco de Medeiros
Professor do Ensino Secundário, Leitor de a Página

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