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O videotelefone

A invenção da televisão foi decisiva para a concepção do videotelefone. No entanto, a invenção do videotelefone é tributária da confluência de dois mundos, o das telecomunicações e o da televisão. Com efeito, o videotelefone é um meio para a comunicação entre correspondentes nos dois sentidos ? isto veio das telecomunicações ?, através de sinais audiovisuais ? isto veio da televisão.
Com o videotelefone cumpriu-se, para a área das comunicações interpessoais à distância, a disponibilização de um meio que permite ver o correspondente, para além de ouvi-lo ? procura-se com o videotelefone uma situação mais próxima da realidade presencial dos correspondentes do que a permitida pelo telefone.   
Mais, o êxito havido com a televisão fez crer no emergir de uma procura maciça para o videotelefone. Aliás, com o objectivo de demonstrar o fundado de tais esperanças na expansão do vídeo nas comunicações interpessoais efectuaram-se várias experiências piloto.
Assim, já nos anos 80 do século XX, realizou-se em França / Biarritz, a que foi a maior delas ? maior investimento, maiores recursos de I&D ?, tendo integrado vários componentes de novas tecnologias, em particular, acessos em fibras ópticas e videotelefones. Foram instalados acessos para centenas de utilizadores, que podiam telefonar, videotelefonar e ver variados programas de televisão; tudo através de uma fibra óptica ligada à residência.
Um gadget terá o videotelefone parecido à grande maioria dos utilizadores de Biarritz. Com efeito, uma boa parte dos correspondentes dos utilizadores não fazia parte da experiência e, pelo menos para esses as comunicações eram telefónicas. Avultou entre as conclusões, o facto de que, como a maioria dos utilizadores habitava o interior de uma pequena área em Biarritz, não sentiam necessidade de comunicar via audiovisual, pois, querendo ver-se, visitavam-se!
Por essa altura, realizou-se em Berlim uma experiência piloto com objectivos semelhantes: fibras ópticas no acesso e videotelefones. Esta foi bastante menor ? 40 utilizadores. A novidade esteve no facto de os utilizadores serem pessoas surdas.
E como as pessoas surdas não podem usufruir dos telefones, os participantes, não só consideraram a videotelefonia indispensável, como procuraram evitar que a experiência fosse terminada.
As indicações fornecidas por estas experiências levaram a afastar a perspectiva de uma procura maciça de videotelefones requerendo capacidades no acesso de várias dezenas de Mbit/s e, portanto, exigindo fibras ópticas nos acessos. No entanto, a ideia do videotelefone para as pessoas surdas e, em geral, para as pessoas com necessidades especiais foi continuada. De facto, uma parte do trabalho de I&D nesta área dirigiu-se a este tipo de utilizadores.
Entretanto, os progressos da área da codificação de sinais levaram à redução da quantidade de informação a ser transmitida e, portanto, contribuíram de forma decisiva para surgirem videotelefones para acessos com capacidades muito menos elevadas, como é o caso da Rede Digital com Integração de Serviços (RDIS).
Recentemente, o videotelefone conheceu outras vias de expansão, quer em nichos de mercado quer de massas. Como nicho de mercado, tem sido a utilização em reportagens, ao vivo, de televisão. A sua publicidade como gadget, em associação com programas de televisão, visando uma sua expansão, tem constituído outra aplicação. Um grande esforço tem visado a utilização do videotelefone nas comunicações móveis.
Com efeito, vai uma distância considerável entre a ?evidência? de a imagem ser fundamental para a comunicação ? que a televisão teria corroborado ? e a dificuldade que o videotelefone tem em firmar-se. Serão os preços, existindo ao mesmo tempo outras formas de comunicação interpessoal à distância, como a fala e a escrita, a menores preços? Seja como for, é uma questão não resolvida.


  
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Edição:

N.º 147
Ano 14, Julho 2005

Autoria:

Francisco Silva
Engenheiro, Portugal Telecom
Francisco Silva
Engenheiro, Portugal Telecom

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