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O processo masculino feminino

O grande debate do dia é: ser homem, ser mulher, namoro heterossexual, namoro do mesmo sexo, namoro entre o mais novo e o mais velho. Enfim, namoros que nem precisam de acabar numa relação íntima de dois no mesmo leito, ou nas últimas filas de trás de um cinema de bairro. Namoros de flirt, como diria Georg Simmel (1917, Fundamental Questions of Sociology), que soube retirar da construção da sociedade civil a heterogeneidade da interacção emotiva, como lembra nos seus textos Josepa Cucó. A procura da denominada liberdade feminina a par da masculina, tem sido o discurso que ao longo dos Séculos perpetuo a ideia de que, a masculinidade tem sido a espada de Damocles que parece guardar a feminilidade para a masculinidade. Dois conceitos muito falados e definidos por John Locke desde 1666, e anteriormente, por Aristóteles, recuperado por Avicenas no Século IX, ao modificar as teorias muçulmanas de Fathoma, a filha de Mohamed, a quem ele ditara o El ? al ? Corão para orientar o comportamento não cristão entre homens e mulheres. Ou, retirados por Tomás de Aquino em 1256, ao usar Avicenas para escrever o seu famoso tratado de Suma Teológica, texto que ia queimando por heresia ao acreditado pensador da divindade, do lucro de homem e mulher (à laia da Shakespeare e os seus Montagius e Capulletos) da poligamia e as suas inconveniências apenas pelos ciúmes entre as mulheres deste tão alto marido, incapaz de poliandria. Avicenas e Aquino, falam de paixão, falam da relação entre homem e mulher, da solidão que subordina a primeira ao segundo, e da vida pública que define o macho, como entidade masculina ? um pater famílias que sabe mandar e comandar, muito embora, nem saiba cozinhar ou remendar roupas. Esses dois elementos do processo masculino ? feminino, fundamentais para um ser humano se manter na História. Masculino e Feminino, já falado por Freud em 1885 e 1906, ao definir a sexualidade como o motor do desenvolvimento da vida ? com outra parte a evitarem: thanatos, a morte material eterna, ou em vida ao ficar fora da História, fora da memória das pessoas. Um Freud preocupado com as ideias bauvesianas de Grachus Babeuf de 1786 no seu Manifesto dos Plebeus, ideia fundadora da Comuna de Paris e da igualdade entre seres humanos, masculinos ou femininos. Pessoas com força de trabalho no dizer do Manifesto de 1848, que Marx retira de Babeuf., louvando-o por ter sido o primeiro a entender a nota de semelhança entre as pessoas. Semelhança que encontra no processo de construção social que define e redefine o género dos seres humanos e as suas possibilidades de Gesellschaft ou associativismo ou construção de Sociedade Civil. Com Direito, com Lei, permitindo organizar, falar, definir, manipular, construir, um processo de vida dentro da História. De bebés passamos a crianças, seguimos para o entendimento do mundo em desenvolvimento, começa a menstruação e a gota a gota do esperma. A possibilidade de abrir a História ao Mundo, atinge mais ideias que as de Maurice Agulhon (Histoire de la France contemporaine, 1986-1997, Plon, Paris): os rituais, o desejo, a paixão, o namoro, mudam entre os denominados géneros conforme as épocas: o melhor amigo do amigo, a amiga que tira as minhas bonecas, o rapaz que rouba o meu primeiro namorado, como Pedro Almodôvar define em Mala Educación em 2004, a mulher que procura a minha mulher, a minha mulher e eu, o seu marido, por contrato ou de facto, este carrossel de igualdades que em 1797 levou Grachus, à guilhotina, por ordem do seu amigo Jacobino, Robespierre. A inferioridade feminina, definida ao longo de História, começa a findar ao entrar o Capital pelas portas do salário necessário para a manutenção, de forma ?adequada? como defendo num meu texto, do alargado grupo familiar, as tecnocracias que permitem a nossa elegância, os gastos em aparelhos de divertimento e não de produção. A Economia, no dizer de Ludwig Feuerbach em 1848-49, é a orientação do comportamento, como debatem e os seus discípulos. De forma soberana, Sigmund Freud explicita em 1905: ser, é para todos igual; agir, depende da conjuntura, da classe social, da paz da interacção social ou das lutas que levam homens e mulheres a trocar de papéis conforme a habilidade do combate. É uma comprida lista de autores saxónicos e dos seus rivais franceses, desde a época de Henrique V Plantagenet (1399), até os contratos das famílias de toda as classes de hoje em dia, permitem apreciar que, desde criança, o saltitar de homem a mulher é parte da História que leva a perguntar ao Alicantino Emilio García Estébanez em 1992, se é ou não cristão ser mulher. Por outras palavras, até que ponto uma fêmea pode falar e agir, onde deve calar, e quando apenas obedecer. Tal como Aristóteles em 435, as respostas francesas, falam de sociedade civil, as saxónicas de comunidades, as mulheres encurralam aos homens dentro de ideia Bauvesiana de igualdade. Elas desprezam-nos: foram muitos séculos e em todas as culturas, excepto no Nepal, que os masculinos músculos as tiveram como crianças. Crianças que um dia gritam e nos fecham com medo da sua arrogância. Em curto espaço de tempo, o processo homem ? mulher mudou e começamos a ficar cheios de medo e de distância. Amar, com toda a paixão; mas, é melhor para o homem calar. Flirtar...apenas à distancia....Este processo homem ? mulher que apenas ontem nos foi ensinado..... Mais ideias religiosas e económicas, teriam colocado a História e a Sociologia, na balança de empatia simpática do processo, com homens a recuperar a sua masculinidade como processo silencioso...enquanto cresce, gritante, a feminilidade. Assim fala, um adepto de Babeuf...que soube entender por igual homens e mulheres.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 146
Ano 14, Junho 2005

Autoria:

Raúl Iturra
Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa, Lisboa
Ana Paula Vieira da Silva

Raúl Iturra
Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa, Lisboa
Ana Paula Vieira da Silva

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