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Uma integração necessária

DA TEORIA À PRÁTICA NA FORMAÇÂO DE PROFESSORES

O principal traço distintivo da profissão docente situa-se no conjunto das competências que lhes permita planificar e realizar os processos ? como - mais adequados para que todos e cada um dos seus alunos façam aprendizagens de qualidade em igualdade de circunstâncias.

A natureza integrada da realidade social aliada à crescente diversificação humana de cada sociedade, torna cada vez mais difícil qualquer tentativa para a descrever em todas as suas complexidades e subtilezas. A diversificação cultural, étnica e social das populações tornou-se uma das variáveis mais determinantes em qualquer sector de acção e intervenção social. Na escola, aquela diversificação apela a olhares, cada vez mais atentos e críticos, dos professores para poderem fundamentar em bases consistentes, justas e equitativas o seu desempenho. Estes deparam-se com questões de relevância crescente para a qualidade do seu desempenho como saber quem são ? cultural, étnica e socialmente ? em cada ano e em cada turma, os seus alunos; como organizar o processo de ensino para que todos aprendam, etc. Independentemente das mudanças sociais, é esperado que os professores orientem a sua acção no sentido de aprendizagens de qualidade para todos em igualdade de circunstâncias. Ora, estas expectativas e estas exigências em relação ao desempenho docente reforçam, como nunca antes em Portugal, a necessidade de formar professores com os saberes e as disposições para basear a sua intervenção na análise crítica da realidade social ? comunidade, escola, alunos - em que actua. 
O principal traço distintivo da profissão docente situa-se no conjunto das competências que lhes permita planificar e realizar os processos ? como - mais adequados para que todos e cada um dos seus alunos façam aprendizagens de qualidade em igualdade de circunstâncias. As decisões curriculares com essas finalidades pressupõem a compreensão dos contextos e dos sujeitos das aprendizagens que a Sociologia e Antropologia da Educação, a Psicologia bem como o acompanhamento e a análise crítica das questões sociais contemporâneas, podem proporcionar. Por diversas razões, não parece que essa componente de formação de professores esteja a realizar-se com sucesso. Em primeiro lugar, permanecem na formação inicial de professores fortes factores de resistência à lógica de projecto, gerando descontinuidades entre componentes e momentos da formação bem como entre discursos e concepções formativas dentro do mesmo curso. O discurso centrado na prática pedagógica tende a ocultar a importância daquela teoria na formação de professores. Persiste uma concepção de formação através de prática reprodutiva deixando aos formandos a ideia de prática observada, prática desejada. É incontestável a importância crucial da prática pedagógica e dos estágios integrados no programa de formação inicial de professores. É, provavelmente, a componente de mais difícil realização e que assegura a projecção, para contextos de intervenção, do capital científico, teórico, reflexivo e metodológico que os formandos foram adquirindo e desenvolvendo nas restantes componentes do curso. Não se define como um espaço de simples reprodução daquilo que outros, mais experientes, fazem ou fizeram. A preparação para a complexidade e a imprevisibilidade dos cenários de acção educativa dos futuros diplomados e a crescente diversidade dos sujeitos e dos contextos, exige um perfil de docente definido, sobretudo, pela sua preparação e capacidade para (re)construir as melhores soluções pedagógicas em contexto. Nesse sentido, a prática e os estágios integrados, devem ancorar-se, cada vez mais, nas componentes da formação que sustentem o uso da autonomia docente para responder, com as competências adequadas, às necessidades educativas da diversidade dos alunos, na diversidade dos contextos. A ausência do sentido de projecto e da dimensão integradora durante o curso tende a produzir rupturas entre a prática pedagógica e as componentes teóricas do curso, ocultando a importância da análise crítica e reflexiva dos processos educativos e das mudanças sociais nos contextos em que o futuro docente terá de actuar profissionalmente. Naquela ausência, o estágio apresenta-se como a última oportunidade de aprendizagem prática, por imitação e reprodução pouco questionada das  práticas observadas, antes do formando iniciar a sua vida profissional.


  
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Edição:

N.º 145
Ano 14, Maio 2005

Autoria:

Carlos Cardoso
ESE de Lisboa
Carlos Cardoso
ESE de Lisboa

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