Página  >  Edições  >  N.º 143  >  Educação na ?Sociedade da Informação e do Conhecimento?

Educação na ?Sociedade da Informação e do Conhecimento?

Grande é o desafio aos Educadores e Professores para que se mantenham acima da moda e da sedução da ?máquina? para criativamente a controlar e conferir-lhe conteúdos e funções substancialmente educativos.

As tecnologias da comunicação e informação, embora tendo antecedentes distintivamente modernos há muitas décadas, ganharam nas últimas décadas uma presença e importância que levou alguns a apelidar a presente sociedade nos países mais desenvolvidos como ?sociedade da informação?.
A sociedade é a mesma, os seus instrumentos de auto-organização e de trabalho é que têm mudado rapidamente.
A importância da presença das modernas tecnologias da informação e da comunicação não pode ser inteiramente avaliada se não tivermos presente que, no último meio século, a população mundial mais que duplicou (crescendo a 1,7%/ano), o PIB agregado quase sextuplicou (4%/ano), o comércio internacional de mercadorias e serviços cresceu quinze vezes (6%ano); e a energia fóssil quase 5 vezes (3.5%/ano). Paralelamente, os custos de transporte e processamento de informação decresceram drasticamente, enquanto os de transporte de mercadorias e passageiros declinou perceptivelmente apenas (excepto no modo de transporte rodoviário, em que estabilizou).
Ora as tecnologias da comunicação e informação servem como instrumento para a observada tendência de concentração da produção por corporações transnacionais multicontinentais e servem os serviços de comunicação e logística que suportam o imenso tráfego internacional de mercadorias (e passageiros).
Outra vertente em que elas são instrumento de concentração económica, e de condicionamento ideológico, é a fusão de empresas de serviços e de conteúdos os mais variados: serviços de Internet, operadores de telecomunicações, produtores de vídeo, produção TV, produção e distribuição de cinema, imprensa, editores livreiros, editores de música. Grandes grupos de media rivalizam com outros grandes grupos económicos.
A expansão das telecomunicações fixas e móveis, o acesso à rede mundial Internet incluindo em suportes e protocolos em banda larga, a televisão por satélite e cabo, configuram uma mutação das infra-estruturas das redes de telecomunicações, na direcção da adopção geral de tecnologias do tipo Internet. Os fluxos de informação suportados e disponíveis são colossais. A disponibilização e o comércio de conteúdos é omnipresente.
Ora deve ser nossa preocupação compreender estes processos e encaminhar os seus resultados para a elevação da qualidade de vida material e cultural da população. Colocar as novas oportunidades ao serviço do interesse comum sem que este seja subjugado por objectivos financeiros que interessam a uma ínfima parte da população. O Estado deve desempenhar essa função de garante do interesse público.
As tecnologias da informação e comunicação tanto são uma evidente ameaça ao sistema Educativo como um poderoso auxiliar do processo de Ensino e Aprendizagem. A Escola não controla esta evolução, que é alimentada pelas tendências concretas do crescimento económico (boas ou más) e só pode ser comandada pelo poder político (assumido ou implícito). Os contextos de socialização são alargados, podendo ameaçar a centralidade do relacionamento entre criança/adolescente com educador/professor. Ao mesmo tempo que num mundo tendencialmente mais urbanizado e dominado por poderosas indústrias de serviços, o contacto com a realidade natural se distancie. O instrumento pode virar em sujeito e o sujeito em mero utente/consumidor. Esta ameaça é veiculada pelo discurso tecnocrático sobre a ?sociedade da informação e do conhecimento? que procura subverter ordens de valores e de comportamentos mediante palavras aparentemente inocentes.
Grande é o desafio aos Educadores e Professores para que se mantenham acima da moda e da sedução da ?máquina? para criativamente a controlar e conferir-lhe conteúdos e funções substancialmente educativos. E para evitar o agravamento da perniciosa deriva para que muitos jovens se vejam alienados do conhecimento do mundo real que existe para além da máquina de feitos e conteúdos virtuais (verdadeiros ou inventados). Evitar que a alienação e a exclusão não acabe por se tornar em ?missão? oficial de uma Educação que estaria em grave crise de identidade. 
13 de Fevereiro de 2005


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 143
Ano 14, Março 2005

Autoria:

Rui Namorado Rosa
Univ. de Évora
Rui Namorado Rosa
Univ. de Évora

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo