Página  >  Edições  >  N.º 142  >  Das intenções e das práticas

Das intenções e das práticas

O desfasamento entre o DIZER e o FAZER atravessa toda a história da educação. Vale a pena lembrar que a universalidade da educação foi proclamada em França no final do século XVIII, nos projectos da Revolução Francesa. Ela só se concretizou, e apenas no plano legal, um século mais tarde, nas leis escolares da III República.
Este histórico desfasamento é particularmente notório em Portugal. Leiam-se as sucessivas leis e legislação conexa e darnos-emos conta do enorme abismo entre o DIZER e o FAZER. Portugal é um país de maus teóricos e de práticos incapazes. De abundante só temos colecionadores e coladores de frases feitas importadas.
Dizem alguns que o país não precisa de mais diagnósticos, que os estudos estão todos feitos e que agora só falta fazer. Tenho as minhas dúvidas.
No caso da educação ou eu me engano muito ou o que mais se tem feito é estudar a realidade que outros estudaram. E é aprender o que outros disseram.
Estudar a realidade da escola portuguesa. Conhecer os nossos estudantes, os nossos pais, a nossa estrutura cultural, a nossa economia. Entender os seus problemas e desenhar-lhe soluções não são coisas que abundem. Os nossos investigadores gostam dos gabinetes, agora do computador, detestam calçar as botas, menos ainda cheirar o campo e o povo. Ao fim e ao cabo em primeiro lugar está a carreira e ela faz-se bem de rabo sentado na cadeira. Mais umas leituras, umas letras, mais umas tretas e a coisa vai. 
Muitos dos estudos feitos são sobre a «qualidade do ensino» ou «um ensino de qualidade». Pergunta-se o que precisa o país e logo nos revelam que precisa de «um ensino de qualidade» ou, «uma escola pública de qualidade». Pergunta-se o que se entende por tais designações e o caldo entorna-se. «Mais meios para a educação» é a resposta mais provável.
Não sei o que querem dizer com a qualidade e mesmo com a quantidade estamos conversados. Ou não é a quantidade de insucesso e de abandono escolar em Portugal um problema dos diabos? Respostas região a região, escola a escola, aluno a aluno, precisam-se.
Neste modelo que estamos a sugerir ao colocarmos uma estrutura mais leve e mais autónoma de concretização dos objectivos talvez se esteja a encurtar a distância entre o plano das intenções e da prática. Recusar o actual sistema em que um projecto educativo, onde se pede aos professores que façam um projecto para que digam Em vez que se peça para fazerem avaliai aquilo que se fez.

Qualidade na educação

Finalmente, e muita gente fala da qualidade do ensino. Um dos discursos dominantes desde a década de 70 é a qualidade de ensino, colocando a tónica sobre os aspectos quantitativos, mas de termos em conta qual o valor desses resultados.
Este fórum podia contribuir e esforçar-se por fugir a estes lugares comuns e ter o trabalho e pensar o trabalho. Pensar as questões concretas do que se pretende    e o que é preciso para atingir esses obejtcivos e essa é a vantagem deste tipo de debates.


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 142
Ano 14, Fevereiro 2005

Autoria:

José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.
José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo